Crítica – Sky Rojo (Primeira Temporada)

O início dos episódios da primeira temporada de Sky Rojo sempre procuram brincar com algum elemento do universo da prostituição. Isso vai para alguns caminhos de forma mais séria, como ao trabalhar o abandono dessas mulheres, mas também chega a certas partes mais cômicas, como a estranheza de certos clientes. Essa ideia base dos primeiros minutos denotam claramente em que ponto a série da Netflix quer chegar: ser um misto de crítica com diversão. Enquanto o lado mais dramático e pesado aborda os dilemas da profissão chamada de “mais antiga do mundo”, o suspense e ação tomam caminho da outra parte.

Para trabalhar isso, é preciso um fio condutor com personagens que reflitam a situação. E nada mais claro que exacerbar toda a condição temática e de abordagem da produção do que fazendo suas três protagonistas se libertarem do cafetão que as maltrata. Coral (Verónica Sánchez), Wendy (Lali Espósito) e Gina (Yany Prado) conseguem fugir da vida da prostituição, deixando Romeo (Asier Etxeandia) gravemente ferido. Elas, porém precisam continuar a fuga dos dois capangas dele: Moisés (Miguel Ángel Silvestre, de Sense8) e Christian (Enric Auquer). Sendo rastreadas, elas vão em busca de encontrar alguma forma de sobreviver.

Há um claro objetivo do seriado em ser realmente sem um grande enfoque. Talvez quem podemos chamar de mais protagonista é Coral, visto que grande parte da obra se passa por seus olhos – especialmente os flashbacks e os voice over. Contudo, nem sempre seus relatos são inteiramente verdadeiros, como algumas cenas específicas mostram. Sendo assim, seria ela verdadeiramente a pessoa mais correta para abordar essa história? É curioso como esse elemento de uma espécie de mentira narrativa acaba sendo bem pouco explorado. O maior interesse por parte dos seis episódios é chegar quase em um clima de algum dos filmes de Robert Rodriguez. Ou seja, sangue, sexo e ação. Não que essa abordagem seja mal realizada, longe disso. Porém, esse fio condutor parece sempre bastante confuso.

Desse jeito, é até interessante o trabalho do seriado em buscar esse “outro lado” da prostituição. A tentativa de fuga de si mesma e até encontrar esse local como única maneira de subsistência – existe um pano de fundo político que é deixado quase subentendido. Ao mesmo tempo que algumas delas até tentam encontrar algo mais profundo na relação com os homens. O relacionamento de Gina com um cliente, por exemplo, que se transformam em relevante durante parte de um capítulo, é um desses casos de uma grande ilusão por parte dessas mulheres, especialmente as mais jovens.

Todavia, é no lado da road trip que Sky Rojo consegue usar melhor seus elementos de ação, que é onde a produção da Netflix parece ter mais interesse. As perseguições de carro e a busca, em certos instantes, por ser quase um Mad Max ou Quadrilha dos Sádicos, acaba sendo um caminho curioso a ser seguido. Porém, as resoluções acabam sempre cedo demais, abrindo pouco espaço a um maior desenvolvimento dessas sequências. No episódio derradeiro, uma cena de ação dentro de uma ambulância chega a abrir muitas possibilidades, mas que acabam sempre sendo deixadas de lado.

Os seis episódios dessa primeira temporada abrem muitas portas bem vindas para uma série do tipo. Enquanto obras atualmente parecem ter mais vontade de desenvolver um lado social quase 100% do tempo, Sky Rojo parece estar mais preocupada em brincar com todo elemento que aparece na frente dela. Desse jeito, constrói um trio de protagonistas e de vilões extremamente bem desenvolvidos e que trazem sentido para um antagonismo que acontece. Até porque nenhum deles é apenas uma coisa só, com múltiplos pensamentos e vivências. Mesmo assim, talvez faltasse um certo empurrão para chegar em alguns caminhos inesperados. Quem sabe um próximo ano possa dar esse gosto. E, olha, esses novos capítulos parecem bem próximos, devido ao fim da temporada.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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