Crítica – Still: A História de Michael J. Fox

Apesar de sumido desde o início dos anos 2000 em grande parte da indústria hollywoodiana, o nome de Michael J. Fox ainda é sinônimo de sucesso. Muito se deve, é claro, pelo protagonismo na trilogia De Volta Para o Futuro. Apesar disso, o nome dele também é marcante por outras produções, como em O Garoto do Futuro, Spin City Os Espíritos. Só que, desde que foi diagnosticado com parkinson, perdeu sua importância na indústria, que vem recuperando nos últimos anos. As atuais gerações parecem estar redescobrindo cada vez mais o ator, que enfrentou diversos problemas no curto período de intensa fama que teve. Não a toa, agora ganha um documentário sobre sua história: Still: A História de Michael J. Fox.

A doença começou a aparecer na vida do astro no fim dos anos 1990. Naquele período, foi o que ele pareceu ter entrando em uma espécie de ostracismo, na qual poucos sabiam verdadeiramente de sua condição. Por isso, é interessante como, a todo instante, Michael parece nunca verdadeiramente esconder que realmente tentou desaparecer, e fazer com que seu estado – que estava piorando – não se transformasse em algo midiático. Em um determinado instante do documentário, dirigido por Davis Guggenheim (de Malala), ele comenta que chegou a ir para os outros países realizar filmes e séries, já que poderia parecer mais imperceptível.

Há um aspecto também interessante em Still: A História de Michael J. Fox que é a busca por tentar compreender como isso tudo começou. Em certo sentido, soa quase como um trabalho investigativo, ao observar as dinâmicas e problemáticas que ele sofreu, especialmente nos anos 1980. Nesse sentido, a inventividade do documentário ao fazer colagens de cenas de alguns de seus trabalhos com a sua situação de estresse e cansaço reforçam ainda mais a ideia. Isso fica mais evidente no período em que ele fala da desgastante rotina gravando De Volta Para o Futuro e no set da série em que ele era um dos protagonistas, Caras e Caretas.

Essas reconstruções são essenciais para enterdemos a figura complicada que Michael era – e na qual ele até admite -, com os outros. Todo o espaço dedicado a Tracy Pollan é um capítulo a parte nisso, já que a conexão dos dois, casados há mais de 30 anos, parece ter surgido justamente de alguém que conseguiu confrontar a persona dele ruim que parecia se formar pelo dia a dia. Desse jeito, é como se ele estivesse chamando por algum socorro e ele apareceu na forma dela. Contudo, mais uma vez, Michael J. Fox não teme em dizer que não foi um bom marido e bom pai no início da relação dos dois, já que ficava extremamente ausente por causa do trabalho. Não a toa, Guggenheim valoriza os momentos dele com a família dentro do longa lançado pela Apple TV+.

Apesar de ter sido escrito pelo próprio personagem principal, o filme não quer ser uma defesa completa dele, e isso faz ele ser ainda mais curioso de se assistir. O próprio título traduzido, Still (ainda, em tradução livre), reforça a ideia que ele quer demonstrar que não morreu e nem desapareceu, continua vivo, presente. Parece que ele quer mostrar que as figuras da Hollywood que caíram no ostracismo não necessariamente abandonaram a carreira ou se envolveram em algo ruim, elas podem ter sofrido de alguma coisa. Nesse sentido, a intenção parece ser bem similar a de Val, doc de Val Kilmer.

Com Still: A História de Michael J. Fox, Davis Guggenheim busca transformar seu protagonista em alguém passível de erros e acertos, porém que não deveria ter sido deixado de lado tendo sido uma das figuras de maior repercussão nos Estados Unidos na década de 80. Desse jeito, Michael J. Fox nem é tanto homenageado, mas colocado em cheque, como alguém que pode até mesmo ser frágil e sem desistir por causa da doença. Que sirva de lembrança para tantos outros astros e atores renegados pelo tempo.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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