Crítica – Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton

Criada por Shonda Rhimes e dirigida por Tom VericaRainha Charlotte: Uma História Bridgerton poderia ser, facilmente, a terceira temporada da série de época de enorme sucesso, baseada nos livros de Julia Quinn. Enquanto Rhimes é também roteirista e criadora de Bridgerton, Verica é produtor-executivo e diretor de alguns episódios. Ou seja, estamos falando dos mesmos pensadores, e até de mesmos personagens. Assim, o questionamento surge: por qual motivo essa história precisaria ser contada de forma separada, visto que até mesmo continua o fim do segundo ano de sua original? Tirando o caráter mercadológico da jogada, é fácil compreender o lado único, ao observar a trajetória das mulheres renegadas do Império Britânico.

Nesse sentido, quem conduz toda a narrativa é a que dá nome a trama, Charlotte (India Amarteifio). Ela, vinda de uma terra de sucesso no interior da Alemanha, acaba sendo jogada em um casamento com o Rei Jorge (Corey Mylchreest). A paixão inicial e interação dos dois dá lugar para um drama de abandono e complicações políticas, por causa de uma condição do monarca, até então não conhecida por todos. Só que a Rainha aproveita a chance para se tornar verdadeiramente uma comandante, além de mudar de vez toda a trajetória do país.

A direção de Verica gosta de assumir um tom meio dúbio para todos os acontecimentos. E isso, ao mesmo tempo que reforça toda a construção dramática da relação dos dois protagonistas, e também fortalecida pelas brincadeiras temporais que os seis episódios fazem. Nos dois âmbitos, as dificuldades de relações de Charlotte são a temática principal, sendo que, no passado, por condições alheias a ela, e, no futuro, por não conseguir levar adiante a distania real devido a falta de netos. Com isso, é como se, em um ambiente extremamente controlado (algo que aparece até mais forte que em Bridgerton, com todo o funcionamento palaciano e os servos a todo lado), seja impossível não seguir uma determinada cartilha adotada anteriormente.

Mas a produção busca focar esse elemento também ao redor da coroa. Assim, acompanhamos com detalhes a história de Lady Agatha Danbury, uma das personagens mais curiosas da série original. Aqui, ela, feita por Arsema Thomas, é uma persona cheia de sofrimentos a sua volta, desde com um marido que pouco a da atenção, até mesmo pelas dificuldades de crescimento nessa sociedade por ser uma mulher negra. No momento em que ela é transformada em Lady, as coisas mudam de figura, e Agatha busca, de todos os jeitos, se manter como parte de uma sociedade dominada por homens brancos.

Aliás, Rainha Charlotte: Uma História Bridgerton é uma série que gosta até de abordar os elementos “modernosos”, se é possível chamar assim, por detrás dessa mitologia, buscando uma fantasia interessante. Dessa forma, se na outra as relações homoeróticas, o papel das mulheres e as questões raciais parecem mais bem estabelecidas, aqui tudo tem uma espécie de início, devido a união de Charlotte e Jorge. Em certos momentos, o seriado torna isso de uma forma tão óbvia, que chega até a soar um tanto quanto bobo (quando, após o primeiro baile, Jorge diz que “nós fizemos mais avanços hoje que toda a Grã-Bretanha no último século”). Contudo, é nas sutilezas que a obra ganha outros contornos, como em uma pintura mais embranquecida de uma pele negra, ou até mesmo uma discussão sobre riqueza.

Apesar de soar realmente como um terceiro ano de BridgertonRainha Charlotte: Uma História Bridgerton é uma série que busca sua própria independência ao olhar a história quase paralela dessas mulheres esquecidas. As duas de maior destaque – ambas curiosidades enormes para quem vê a obra primordial -, que ganham suas próprias camadas e complexidades aqui. Com isso, se torna única, ao conseguir enaltecer a narrativa de uma personagem que até mesmo como comandante, parece esquecida no tempo. Em certo sentido, é uma maneira de Rhimes e Verica recordarem outras tantas Rainhas renegadas pela história.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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