Crítica – A Primeira Morte de Joana

Joana (Letícia Kacperski) está num momento crucial da vida: a fronteira entre a infância pura e a juventude. Ela ainda pode olhar para as distantes turbinas eólicas e enxergá-las como “monstros que dançam hipnotizados” e balançar os braços aleatoriamente ao lado de uma amiga. No entanto, as amarguras da vida adulta começam a aparecer, entre elas, a morte.

Não chega a ser uma surpresa que A Primeira Morte de Joana tenha como ponto de partida tal situação, afinal, está no título. É o falecimento da tia-avó, aos 70 anos, que inicia a trama de descobrimento e amadurecimento da protagonista. A vida da parente é cercada de mistérios, pois, até o fim, ela nunca teve sequer um namorado, questão que tem circulado na cabeça da jovem, especialmente após Carolina (Isabela Bressane), uma amiga da escola, revela ter beijado alguém durante as férias, e mantém segredo sobre quem poderia ter sido.

Os aspectos amorosos e sexuais da vida esbarram no conservadorismo familiar. Joana informa Carolina que a mãe não deixaria ela beijar alguém, chocando um pouco a colega. A falta de romance na vida da tia-avó vira pauta de investigação: qual seria o motivo para alguém viver tanto tempo sem um par? Com esses elementos, a diretora Cristiane Oliveira vai construindo sua obra com um viés naturalista, deixando os eventos acontecerem sem grande pressa, mas também sem um grande trabalho dramático. A fotografia pálida combina com a obra nesse sentido: mesmo um pequeno incêndio é tratado com certo distanciamento e frieza.

Esses aspectos, por vezes, dão espaço à sutileza, que se encaixa muito bem nesse universo onde, por vezes, o mais importante está no não dito, mas sim nos olhares discretos lançados para outrem, ou na silenciosa observação da vida dos adultos, que revela contradições. A mãe, rígida, fala para Joana não pensar em namoro, mas flerta, timidamente, com um amigo, e a avó é mais despudorada, andando de calcinha e sutiã pela casa quando está calor, sem se preocupar com quem possa estar vendo.

É nesse “flerte” com coisas aparentemente distantes que A Primeira Morte de Joana funciona bem, no entanto, não dá para ficar nisso para sempre, e falta o filme uma certa força para ir além das entrelinhas, de se embrenhar de fato nos temas que decide mostrar. A cena final é particularmente boa nesse sentido, trazendo a tona o que estava na superfície desde o início, mas a sensação é menos de catarse, e mais um “finalmente!”. A produção não é de todo desagradável, e é até bem-vinda pelo tema que retrata, mas, ao refletir sobre a mesma, sua monotonia se destaca acima de tudo.

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