Crítica – A Guerra do Amanhã

A premissa de A Guerra do Amanhã parece com um milhão de outras. E tem até elementos semelhantes, o filme não esconde isso de jeito nenhum. Se esses elementos poderiam ser algo bom para a nova produção do Prime Video – e uma grande aposta da plataforma -, eles são usados sempre de forma tão genérica que não temos apenas a impressão, como realmente estamos vendo algo repetido. Se Chris McKay soube ousar na construção de universo em Lego Batman: O Filme, aqui tudo isso é deixado de lado. Dessa forma, sem muita coisa para contar ou qualquer traço de um interessante mundo construído, resta pouquíssimo a se deixar.

Porém, a trama base dessa história, mesmo comum, abre elementos que poderiam ser curiosos e bem explorados. Isso porque acompanhamos a trajetória de Dan Forester (Chris Pratt), um ex-combatente do Exército dos Estados Unidos. Ele agora busca viver com sua família, em uma nova realidade e buscando outras formas de sustenção. O problema é que nunca encontrar o melhor local para trabalho ou a possibilidade de trazer felicidade para dentro de casa a sua filha Muri (Ryan Kiera Armstrong) e sua esposa Emmy (Betty Gilpin). Em determinado dia, a situação muda por completo, já que humanos vindos do futuro dizem que uma grande guerra extinguiu a raça. Desse jeito, por falta de soldados, qualquer um que já tenha tido treinamento militar precisa viajar no tempo e combater monstros alienígenas. E Dan embarca nessa jornada.

Apesar das críticas inicial, é importante destacar que McKay estabelece bem um elemento central na narrativa: a relação do protagonista com a família. Ao dar espaço para toda uma sequência inicial em que vemos a dinâmica deles e uma preocupação de diversos lados, o filme estabelece um vínculo necessário para acontecimentos futuros. O grande problema é que A Guerra do Amanhã os explora sempre de forma extremamente catártica e não como um desenvolvimento dramático para esses personagens. Desse jeito, uma determinada revelação no meio da produção de Dan perante a uma general dos humanos no futuro, se transforma em um artifício de inesperado, em vez de trazer um aprofundamento nas relações.

E essas questões também se valem para a forma como outros soldados secundários aparecem e desaparecem durante o longa. Talvez o exemplo mais claro disso seja Charlie (Sam Richardson), que se transforma em um grande amigo de Forester. Ambos desenvolvem um elemento claro de companheirismo mesmo sem se conhecerem. Há uma clara referência dessa ideia com produções de guerra, que buscam aprofundar na conexão dos personagens por estarem em uma situação única na vida. Inicialmente, tal questão até funciona e gera uma conexão divertida sempre que ambos começam algum diálogo – a conversa deles antes de serem chamados de urgência para a viagem no tempo mostra bem isso. Contudo, acaba, novamente, sendo apenas um uso simples, quando se poderia explorar de forma mais complexa a conexão desenvolvida de ambos.

O filme realmente parece nunca querer apostar em algo a mais que a trama simples de ficção-científica. Para quem busca apenas isso, poderá até se divertir. Contudo, falta proundida temática para que qualquer relação seja realmente bem desenvolvida. Parecemos estar sempre diante de um mundo que abre possibilidades, porém que nunca tem o verdadeiro interesse de entrar profundamente nelas, buscando trabalhar muito mais o elemento de uma ação. Essa mesma que também está sempre colocada como se fizesse parte de um caráter bélico dessas personas, mas que, do mesmo jeito, se torna em subdesenvolvida (apenas uma única cena de lembrança do passado).

Com tanta base e tantos elementos que poderiam olhar e trazer muito mais, Chris McKay visa apenas se contentar com o lado mais cru em A Guerra do AmanhãÉ um longa que não está buscando nenhum instante ir além do que se apresenta nos 15 minutos iniciais. A partir disso, se transforma em um grande repeteco e que usa o artifício dos alienígenas e da ideia de futuro e passado sempre de maneira a ser básica, simples. Desse jeito, uma sequência pode explicar bem e traduzir tudo que esse texto está buscando. Uma conversa entre Dan e Charlie sobre a possibilidade de estarem mortos no futuro. É um espaço de desenvolvimento dramático profundo sobre esse tópico. Mas adivinha o que ele se torna? Isso mesmo que você imaginou, nada.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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