Crítica – Solos (Minissérie)

No primeiro episódio que assisti de Solos, a premissa me empolgou um pouco. O capítulo em questão, com o título “Tom”, o mesmo de seu protagonista, interpretado por Anthony Mackie, é sobre um homem rico que possui poucos meses de vida, e decide utilizar um serviço de clonagem para que o clone possa substituí-lo. Mas, ao encontrar seu “outro eu”, há certa revolta. “Você não se parece nada comigo!” diz Tom, furioso. Nada mais longe da verdade, os dois são idênticos, porém levanta uma discussão muito interessante: será que nos percebemos como realmente somos? Há uma breve discussão nesse sentido entre o original e o clone explorando essa discrepância. O problema é que logo fica evidente que a série criada por David Weil possui outras preocupações em mente.

Preocupações essas que são, em sua maioria, terrivelmente sem graça de serem assistidas. Solos é composta por 7 episódios, e o grande “chamariz” é de que cada parte só conta com um ator, atuando inteiramente sozinho, com no máximo outras vozes para ajudar. O elenco é estrelado por grandes nomes, como Anne Hathaway, Helen Mirren, Morgan Freeman, entre outros, cada um protagonizando seu próprio episódio em um cenário levemente sci fi, como uma espaçonave pilotada por um Inteligência Artificial que conversa com seu solitário tripulante.

É uma boa chance para os atores exercitarem suas habilidades sem muitos impedimentos, e eles nunca são o problema real da série, embora uns marquem mais do que outros. Como, por exemplo o episódio de Mirren, que é o da espaçonave, citado previamente, que explora com certa doçura o sentimento de que a vida passou rápido demais, do arrependimento das oportunidades perdidas ao longo do caminho. O rosto marcado pelas rugas da atriz contrasta com a jovialidade da sua personagem, evocando essa sensação de que ela já viveu muito, mas ainda tem muito mais para viver.

No entanto, a sensação que predomina ao assistir Solos é, talvez, uma das piores possíveis para uma obra audiovisual: a de que tudo isso poderia encontrar um espaço melhor sendo um podcast ao invés de uma série. Isso porque a produção pouco se esforça em expressar ideias de modo visual, se contentando em, muitas vezes, deixar a câmera parada e o ator falando. Há exceções, como o episódio de Hathaway, envolvendo viagem no tempo, que explora mais o ambiente, mas outros, como o de Constance Wu, envolve a personagem falando diretamente para a câmera, narrando uma história impactante, porém que fica tediosa diante da maneira que foi contada.

Não ajuda o fato de que quase todas as histórias são muito similares. Retomando o episódio de “Tom”, logo após a situação discutida no início do texto, o personagem fala de sua vida, das coisas que fez e de qual gostaria de ter feito melhor. Se isso soa similar ao que escrevi sobre o episódio protagonizado por Mirren, é porque é mesmo. Quase todos os capítulos seguem o mesmo arco, envolvendo algo que o protagonista se arrependeu de ter feito ou não, encontrando paz ou destruição por meio disso.

É curioso que Solos reconheça que o dispositivo que escolheu para contar essas histórias acaba cansando, tanto que dos 7 episódios, 2 abandonam o formato de quase monólogo e introduzem outros personagens – como o de Morgan Freeman, que atua ao lado de Dan Stevens. Se até mesmo aqueles que se decidiram por esse formato se cansaram, como esperar outra coisa daqueles que a assistem?

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