Crítica – Tank Girl Um
A loucura é talvez a parte mais onipresente da personagem Tank Girl – saiba mais sobre ela aqui. Não apenas a sua insanidade, mas, como dito pelo roteirista e criador Alan Martin na introdução dessa versão brasileira, cangurus, tanque, referências a cultura pop, o cabelo e a Austrália são partes dela. Com ponto de partida nessas características, é possível perceber como a aleatoriedade faz parte da narrativa aqui empregnada. Seus abusos de álcool e cigarro, além do sexo constante, a fazem ser simplesmente uma quebra total de todos os valores morais pré-estabelecidos. Se isso pode parecer ruim aos conservadores, para ela é apenas uma maneira de sobreviver em um mundo louco.
Em Tank Girl Um, temos algumas histórias da personagem, na qual, além de Martin, é desenhada aqui por Jamie Hewlett. Essa fase de 15 capítulos, publicados entre 1988 e 90, retomam os primórdios da protagonista. Somos aqui apresentados ao vasto e louco universo, além de entender suas configurações. Bom, se a palavra usada anteriormente foi loucura, ela pode definir basicamente todas as histórias em pauta nessa HQ. A insanidade narrativa e uma falta real de foco, fazem das tramóias de Tank Girl totalmente deliciosas de serem acompanhadas.
Nesse sentido, é interessante perceber como a trama é desenrolada sempre em um sentido bastante confuso. Apesar de existir uma curadoria na edição de gerar uma continuidade cronológica de lançamento, nada gera uma real coesão dentro das publicações. A protagonista é apresentada, em um primeiro instante, como uma mulher incosequente, sempre buscando seus objetivos e – basicamente – explodir tudo. Desse jeito, somos colocados dentro de acontecimentos as vezes sem uma relação maior com o outro anterior, gerando uma confusão a cada novo quadro. Esse elemento flutuante gera uma história baseada em um DNA de verdadeiros poucos acontecimentos, mas um maior carinho e conexão com o público pela personagem. Nesse conceito, a tradução de Érico Assis merece muitos elogios, pelo simples fato de buscar ao máximo a coesão interna.
As pequenas falas de referência a cultura pop, porém sem maiores explicações. É mais um elemento apenas para gerar essa palatabilidade do mundo, como fosse de verdade uma continuidade terrena. Entretanto, não somos de verdade apresentados a como tudo chegou até ali, apenas simplesmente colocados no meio dessa loucura bastante estética. É até complicado gerar uma análise própria, pelo simples fato do quadrinho possuir um valor bem maior nas pequenas relações do que propriamente em um arco. Aliás, arcos? Existem até alguns, porém sempre deixados de lado quando convém. Poderia ser algo representativamente ruim em qualquer trama, contudo aqui serve a explorar mais a realidade abordada.
Os desenhos de Hewlett, inclusive, usam e abusam disso para gerar sempre caricaturas das circunstâncias apresentadas. Um exemplo claro nesse sentido são os cangurus, tratados como antropofomórficos, todavia acabando por serem alguns dos serem com maiores sentimentos humanos ali. Os vilões e a própria Tank Girl parecem simplesmente viverem suas vidas fora de qualquer ambiente legal ou busca de algo mais duradouro. Enquanto isso, o quadrinista desenha esses cangurus de um jeito meio brutal e meio fofo, gerando um elemento de maior tratamento da personalidade dos mesmos.
Por esses quesitos, Tank Girl Um vale muito mais a pena sendo um embarque dentro de um mundo do que propriamente uma trama em si. Caso você espere isso, é melhor retirar seu cavalo da chuva. Palavrões, falta de qualquer sendo moral ou quaisquer coisa, a personagem título busca apenas destruir e brincar com tudo que vê pela frente. A estética buscada pela dupla responsável por sua criação agrada nesse contexto, ainda mais por quebrarem a parede e termos ela falando diretamente conosco. Existe um lado meio de cúmplice nisso, entretanto parece mais uma chamativa a diversão em um contexto sem nada disso.