Crítica – Tem Alguém na sua Casa

A Netflix é o maior streaming do mundo. Desconsiderando motivos econômicos sobre como a empresa alçou esse posto, é inegável que ela tenha descoberta alguns espaços certeiros quando se trata de seus produtos originais. Dos documentários de true crime aos romances adolescentes, a previsibilidade do gênero está lá, ainda que a qualidade do produto não possa ser antecipada da mesma forma. Tem Alguém na sua Casa, o lançamento desta segunda semana de outubro de 2021 (o filme foi disponibilizado na quarta-feira, dia 6), preenche algumas dessas caixinhas. É adaptado do romance homônimo da escritora americana Stephanie Perkins, coloca um grupo de adolescentes de uma cidade pequena no centro de sua história e o terror é o elemento principal da produção. Ou pelo menos deveria ser.

O longa dirigido por Patrick Brice vem na esteira do que parece ser uma renascença do slasher adolescente, como Freaky: No corpo de um assassino e a trilogia Rua do Medo. O que estas novas fitas fazem é revisitar e transformar as marcas registradas de filmes como PânicoSexta-Feira 13. Ainda que a geração atual não tenha o mesmo visual ou comportamento daquela que protagonizava essas películas, ela ainda o tem como referência, destacando elementos que podem ser valorizados e resgatados, e abrindo mão daqueles que não envelheceram tão bem. É uma fórmula que pareceu funcionar bem até aqui, então o que tornou “Tem alguém na sua casa” uma exceção?

A história segue Makani Young (Sydney Park), uma jovem que encontra uma nova vida na cidade de Osborne, Nebraska, após deixar para trás um passado sombrio no Havaí. Com um novo grupo de amigos e até mesmo um romance secreto com o solitário Ollie Larsson (Théodore Pellerin), a vida em Osborne parece quase normal. Até que os jovens da cidade começam a ser mortos por um assassino que evidencia seus piores segredos antes de assassiná-los, usando máscaras com os rostos de suas vítimas.

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O grande problema do longa é a sua indecisão. Em todos os aspectos é possível ter alguma dúvida, ela está lá. E isso não funciona a favor de nada no filme, pois não constrói personagem e muito menos um grande senso de perigo, dois pilares essenciais para que um filme de terror ou suspense seja efetivo. As cenas de morte, principalmente as duas primeiras, são bem filmadas e interessantes, mas rápidas demais para que causem uma impressão no espectador por mais que dois minutos. Há muito mais tempo investido nas dinâmicas do colégio e da cidade do que na morte dos habitantes desses espaços, mas de maneira tão vazia que acaba fazendo do filme um péssimo exemplo dos dois subgêneros no qual ele se apoia.

O roteiro de Henry Gayden está preocupado em mostrar como a Geração Z está engajada com causas sociais e problematizar isso de uma maneira extrema, mas raramente sutil ou inteligente. Questões como supremacia branca, homofobia e até mesmo a privatização da polícia são jogadas e discutidas na trama, mas sem possuir qualquer relevância de fato para as figuras que conduzem a história. O grande tormento da protagonista, por exemplo, não traz impacto nenhum e nem acrescenta muito à Makani em si e muito menos na história. Há, inclusive, um grande desperdício de conceitos que, explorados de forma menos óbvia, tornariam o filme bem maior, como a festa onde todos confessam seus segredos para não serem mortos, o fato de o assassino utilizar o rosto de suas vítimas como máscara, todos os cenários tétricos que acabam não trazendo nenhuma tensão…. A lista continua.

Makani Young lies on a thin green mattress on the floor, weeping next to a mask of her face, in There’s Someone Inside Your House

A conclusão é pouco inspirada em todos os sentidos. O terceiro ato não empolga ou preocupa ninguém e a revelação do assassino e sua motivação soam tão desconexas do que estava acontecendo que pouco mudam a percepção geral do filme. Sydney Park encabeça um elenco que faz o que pode com personagens que não despertam simpatia do público, nem mesmo um romance entre excluídos é capaz de balançar a história. Tem Alguém na sua Casa parece conhecer bem o gênero que está “homenageando” mas pouquíssimo na trama apresenta algo de original ou relevante para que ele se sobressaia diante de tantos irmãos, principalmente ao lembrar que há menos de um ano a própria Netflix teve muito mais sucesso nessa tentativa com a Rua do Medo de Leigh Janiak.

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