Crítica – Cursed (1ª temporada)

Logo em sua primeira cena, Nimue (Katherine Langford) se questiona se veio do fogo ou do mar. Até porque sua relação complexa de juventude com as questões mágicas, em um mundo dominado por magia, sempre a colocou como um empecilho para o próprio desenvolvimento. A protagonista de Cursed é uma espécie de prometida, não necessariamente uma princesa (até pela sua relação nula com questões de reinados). Entretanto, ao ser prometida para um futuro próspero e até importante dentro da sociedade em que vive, ela deveria ser aceita e não sofrer tentativas de ser exterminada. Assim, o fogo e mar na qual ela cita no início, são sua dualidade. Enquanto o fogo a tenta atacá-la, o mar é a tentativa de proteger seu povo de simplesmente sobreviver.

Nesse conflito de raças que a primeira temporada de Cursed se desenvolve. Nimue busca proteger seu povo sob ataque dos homens de capuz vermelho. Eles são uma espécie de seita cristã, que chamam a tribo da personagem principal de impura. Ao mesmo tempo, ela se defronta com a espada Exalibur, antes dessa ser dada para o Rei Arthur, nas histórias medievais clássicas. Arthur (Devon Terrell) que também aparece para ajudá-la em sua missão, de levar o artefato até o mago Merlin (Gustaf Skarsgård).

O mais interessante para o desenvolvimento da narrativa da série é toda sua relação racial intrínseca para a trama. Apesar de ser fortemente comum em histórias do tipo (exemplos recentes como Bright e Carnival Row não faltam), a maneira como a produção se propõe a estabelecer essa debate – em uma guerra religiosa – trata o tema com camadas mais diversificadas de debate. Isso se realmente fosse um desenvolvimento aprofundado, já que os episódios, a todo instante, se regulam em um nível básico de discussão e de aprofundamento dos personagens. Vemos muito pouco do porque se suas ações e bem mais as consequências delas, mesmo que isso pouco faça sentido.

Nesse quesito, o seriado poderia basear toda sua conexão nos protagonistas, mas com a repetição a cada cena que passa, pouco dos aprofundamos nos quesitos psicológicos. Nimue, por si só, é uma personagem complexa que poderia ter muito mais do seu passado mostrado e não tanto sentido. A tentativa de trazer uma sensibilidade através de cores chapadas da fotografia ou mesmo de uma quebra da imagem quando ela está usando poderes, acaba por ser quase um elemento figurativo do que realmente uma ideia pensada.

É importante destacar que a obra é baseada em uma HQ de mesmo nome escrita por Frank MillerThomas Wheeler. Responsáveis também pela concepção da série, eles parecem quase tentar trazer elementos da linguagem dos quadrinhos, mas sempre em uma perspectiva quase boba. Um dos exemplos é a transição das sequências, quando são colocadas imagens pintadas mostrando as personagens em cenas que aparecerão pela frente. Mesmo sendo um conceito que traz uma questão própria a produção, soa quase como uma tentativa de lembrar que estamos vendo uma adaptação. Assim, os elementos audiovisuais presentes nesse mesmo sentido, quase são esquecidos.

A primeira temporada de Cursed poderia ser algo ainda mais proposito do que realmente é. Ao tentar soar jovem e atrair cada vez mais públicos, o seriado parece mais interessado em soar um simples produto material do que propriamente um trabalho de TV. Isso faz perder seus elementos mais primordiais e que poderiam ser os melhores desenvolvimentos: o debate religioso (que aparece com mais detalhes em apenas 1 episódio) e os protagonistas. Aliás, nem a relação de Arthur na história – aquele que receberá a espada no futuro – parece muito clara. Com esse jogo de possibilidades do algorítimo, ela não parece ter bem entendido o que era para ser.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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