Crítica – The Flash

Em um dos momentos mais cômicos de The Flash, há a discussão sobre quem teria interpretado Marty McFly. Enquanto todos sabemos que o nome é Michael J. Fox (pela nossa realidado, obviamente), os personagens do universo paralelo defendem que teria sido Eric Stoltz. Para os que não sabem, esse segundo realmente foi Marty, só que não inteiramente, já que foi retirado de De Volta Para o Futuro com poucos dias de gravações. Essa grande brincadeira do multiverso é praticamente a base do que o longa do herói mais rápido do mundo vai buscar. Entretanto, a discussão sobre De Volta Para o Futuro, de 1985, dá base para uma outra questão dentro do filme.

The Flash tem menos uma ideia ou intenção de soar como uma coisa grandiosa ou até mesmo revolucionário para o universo DC nos cinemas – recheado de críticas. É uma produção ingênua, em absolutamente todos os aspectos, como algo feito na década de 1980. E isso passa muito pelo olhar de seu diretor, , que vê toda essa narrativa como ela é: infantil. É como se todos os elementos dentro do longa soassem infantis, capaz de serem uma grande descoberta. Não a toa, seu protagonista, Barry Allen (Ezra Miller) é um ser questionador por natureza, como uma criança. Na cena inicial, em que ele ajuda Batman (Ben Affleck) em uma missão, é possível ver como, apesar de sempre debater e reclamar, ele faz tudo. Bruce Wayne é sua figura paterna.

Não a toa, esses elementos fazem sentido quando vemos que a ingenuidade do longa é tão grande a ponto de tudo soar tão bobo. Os efeitos visuais aparecem muito neste olhar, já que parecem, em certo sentido, desleixados, feitos quase como se em um filme B. E, assim, a trama consegue se utilizar desse elemento para um aspecto mais dramático (como nas viagens temporais), ou no alívio cômico (na interação entre os dois Flashs), em que quer se transformar em uma paródia.

Essas questões remotam ainda a trama principal: a busca de Barry por desfazer a morte de sua mãe e salvar seu pai da cadeia. Porém, ao fazer isso, ele acaba se envolvendo em um problema temporal, não volta para o momento presente e para em uma outra linha, na qual conhece ele mesmo antes de conseguir os poderes. Novamente, ingenuidade. Seja por seu olhar quase infantil de resolução dos problemas e da linha temporal. A sequência em que Batman, agora feito por Michael Keaton reeditando seu papel de Batman e Batman: O Retorno, desleixa da ideia “burra” de voltar no tempo para fazer isso, demonstra bem como a direção de Muschietti trata esse mesmo conceito. Ele é realmente bobo, inocente, ingênuo. Essa autoconsciência constrói a encenação em uma grande espiral de erros, que serão cometidos repetidamente. E não por um problema de Allen, mas porque não foi possível ele sair da sua infância.

Esse olhar que busca transformar todo seu universo em menos sério, soa como uma certa “vergonha alheia” para alguns. Entretanto, é como se o diretor buscasse reassumir uma forma que os personagens podem ser livres, capazes até mesmo de serem o que seu próprio tema propõe. Barry, como alguém ansioso, é incapaz até mesmo de aproveitar os momentos com outros heróis. Assim como a montagem vai buscar esse mesmo elemento, transformando as sequências em quase “amontoados”. Tudo faz parte desse olhar do protagonista, como alguém onipresente e onisciente de tudo a sua volta. Um exemplo disso é logo no começo quando a logo de The Flash vai aparecer, sendo interrompida por algumas jovens que gritam ao verem ele.

Enquanto sua HQ base, Flashpoint, parece ter se tornado uma marca do personagem (repetida a exaustação nos quadrinhos, na série televisiva e nas animações), soa como se esse versão live-action buscasse explorar as possibilidades desse mesmo personagem. Pouco importa a viagem no tempo, suas relações, ou até mesmo as aparições especiais (que, mais uma vez, soam infantis, bobas, banais). A verdadeira importância para  é transformar essa história em um grande amadurecimento, para alguém que parece buscar algum. Em transformar The Flash no que os heróis são, no fim das contas: uma grande brincadeira de criança, em um filme dos anos 1980.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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