Críticas: Maldivas (1ª temporada)

A vida e segredos dos ricos e privilegiados nunca deixou de ser fonte para obras audiovisuais. Não importa de onde venha a inspiração: seja de alguma série de romances best-sellers ou das câmeras infiltradas nas grandes mansões de pessoas públicas, qualquer tipo de insight à realidades abastadas oferece um tipo de encantamento ou até mínimo interesse que seja suficiente para que o público ao menos conheça a história sendo contada. A atriz e roteirista Natália Klein, conhecida pelo tom ácido e irônico, aborda esse universo pela ótica brasileira em Maldivas, a aguardada produção original da Netflix.

A história segue cinco moradoras de um condomínio de luxo no bairro da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Além do endereço, Liz, Milene, Rayssa, Kat e Verônica também compartilham algo não tão prestigioso: a conexão com uma vítima de assassinato. Momentos antes de Liz chegar ao Condomínio Maldivas, a socialite Patrícia Duque é morta em um incêndio misterioso em seu apartamento. Cada uma dessas mulheres tem seus próprios motivos para transformar as quadras do local em seus mundos e cemitérios particulares, mas a investigação da morte de Patrícia, conduzida pelo detetive Denilson, pode ameaçar esse mundo que se revela cada vez mais frágil.

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Tendo em vista sua sinopse, e principalmente o seu gênero, não é de estranhar que tudo em Maldivas seja exagerado. Dos personagens e seus backgrounds aos cenários e figurinos e até as cores – embora esse caso talvez não seja exatamente intencional. Essa saturação já era algo característico da criadora. Se em Adorável Psicose o encontro entre gênero, imagem e texto funcionava muito bem, aqui ainda falta um equilíbrio. As piadas nos diálogos e na narração de Klein (que interpreta a ovelha negra do grupo, Verônica) são talvez a fonte de risadas que mais funciona na série, ainda que ela não salve o programa de um ritmo desigual.

Talvez o maior problema aqui seja o desencontro. A proposta parece ser fazer uma sátira aos moradores do bairro carioca, além de brincar com os tropos de mistério e suspense que acompanham títulos parecidas. Produções como  Big Little Lies e Desperate Housewives provam que as possibilidades narrativas desse encontro são muito ricas, podendo fornecer críticas pertinentes sobre questões domésticas e familiares ao mesmo tempo em que exploram o famoso “quem matou?” e suas ramificações.

Aplicar isso no contexto carioca certamente se prova um conceito interessante, já que as questões brasileiras de desigualdade social, elitismo e conservadorismo se mostram como mananciais de inspirações para todo tipo de piada e possibilidade narrativa, principalmente optando pelo absurdo já que o Brasil já adotou esse elemento fora da ficção há muito tempo. No entanto, a série não sabe se quer executar isso de maneira séria ou cômica. Alguns elementos, como o envolvimento da síndica Milene com esquema de desvio com uma equipe de milícia e os crimes cometidos pelo marido de Kat, até tentam flertar com isso, mas nunca são divertidos ou bem desenvolvidos o suficiente para que atinjam qualquer tipo de efeito em quem está vendo – ou até mesmo dentro da própria história.

Isso reforça todo o potencial desperdiçado aqui: apesar de ter cinco protagonistas, apenas as narrativas de Liz e Verônica se encontram de maneira que impacta o rumo da história e o desfecho que ela tem no final. Os problemas de Kat, Rayssa e Milene se entrelaçam (afinal, são vizinhas e amigas), só que ao longo dos episódios se mostram cada vez mais distantes do mistério que ancora a série, afundando a importância das outras três e enfraquecendo ainda mais a dinâmica e o ritmo da história. O que é uma pena, porque todos os atores do núcleo principal, como Marquezine, Klein e Vanessa Gerbelli, se comprometem a fazer o melhor de suas cenas.

What is Maldivas about? (Netflix series synopsis and trailer)

Ainda é possível ter alguma surpresa, com a maneira que cada plot é amarrado, e principalmente com a conclusão da investigação. No entanto, tudo ainda é feito de maneira apressada e rasa. Decisões inteligentes foram feitas em toda a construção do mistério de Liz e sua mãe, mas não a ponto de construir um fio envolvente ou surpreendente o suficiente. O final comprova uma suspeita que se apresenta desde seus primeiros minutos: debaixo da atuação histriônica de Manu Gavassi e de algumas encenações cansativas, há um conto interessante sobre maternidade e moralidade. Porém, assim como suas moradoras, Maldivas tem uma embalagem plástica até demais, inibindo os menos corajosos de conhecer o que está por trás das aparências.

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