Edward, o hamster, e seu diário
“Hoje é meu aniversário e parece que ninguém percebeu. Faz seis meses hoje. Seis meses desde que me “compraram” no Pet Shop Fungadinhas.” O desabafo do hamster Edward começa ilustrando bem sobre o que se tratará a HQ O Diário de Edward, o Hamster: 1990-1990. Ele, um ser altamente inteligente, não consegue ter nenhum tipo de relação com a espécie humana pois não o entendem. Além disso, vive desesperado por outros animais ditos ‘irracionais’ parecem não entendê-lo, como no caso do gato da família. Ele vive essa vida de desespero e decide colocar todos os seus pensamentos dentro do diário, na qual acompanhamos.
Todo esse tratado compõe a ideia dos irmãos Mariam e Erza Elia. Ambos tiveram essa ideia genial e trouxerem para uma concepção estética bem única: algo quase minimalista. Combina bastante com todo o conceito retratado na figura de Edward. Ele é um ser minimalista até o extremo, contudo cheio também de camadas, assim como os detalhes impostos nos desenhos da sua gaiola. O olhar sobre essa figura é sempre divertido, pautado em uma relação de cores igualmente simplista. Ele, um ser aparentemente comum aos olhos humanos, transforma-se em diferenciado quando olhamos para seus escritos.
Edward é um animal antropomórfico. Porém, não em sua relação visivelmente natural perante a elementos recorrentes de um hamster, como rodar na rodinha ou sentir uma fome absurda. Aliás, a sua tentativa de greve de fome para buscar um olhar mais autêntico dos humanos perante a ele fracassa em menos de 10 minutos. A diversão da obra encontra-se exatamente nessa mistura bem direcionada entre a comédia mais explícita de diálogos ou conversas na qual ele tem, em conluio com sua inteligência mais voltada a seres de duas patas.
Os limites dessa relação de diferença de pensamentos podem até ser explorados em uma visão mais psicológica da obra. No entanto, o trabalho aqui é realmente buscar uma diversão acima de qualquer ponto específico. Não a toa, seus embates perante outros hamsters são alguns dos momentos célebres do quadrinho. Isso se deve a especialmente como esses personagens são colocados no mundo, quase como se tivessem papéis sociais diferenciados, em uma sociedade meio minúscula e presa. O primeiro a aparecer possui um caráter mais bobo, sem entender muito bem sobre os diversos pontos. Enquanto isso, na segunda, vemos uma hamster apaixonante, com ideias e pensamentos extremamente próximos a Edward.
Com toda essa questão, ele se mostra depressivo perante a como os seres de sua espécie estão comportando-se socialmente. Não há uma diversão em nada para ele, enquanto isso quem lê possui o deleite sobre cada situação. São relações, nesse sentido, bastante divertidas. É como se os autores buscassem um olhar diferenciado aos nossos pets. Eles, tratados como seres distituídos de inteligência, seja uma mínima, são colocados em quase um pedestal de pensamento crítico perante a tudo. O hamster busca uma libertação para seu corpo, visto que sua mente já está liberta na sociedade ‘hamsteral’.
Por isso tudo é que O Diário de Edward, o Hamster: 1990-1990 acaba sendo tão divertido. Em uma proposta estética bastante crua e nua, vemos um personagem divertido de ter uma conexão muito direta. Rapidamente, podemos nos afeiçoar a suas atitudes, quase revolucionárias para essa comunidade de animais pequenos. Enquanto cachorros são vistos como brincalhões ou raivosos; gatos são vistos como seres que não ligam para nada; hamster são sempre olhados como animais enjaulados, simplesmente. E se a inteligência desses pudesse criar uma revolução? Bom, aí a simplesmente brincadeira Mariam e Erza Elia seria levada a sério.