Entrevista com Joca Reiners Terron, de A Morte e o Meteoro

Joca Reiners Terron sempre ficou reconhecido pelo seu trabalho narrativo na sua literatura. Iniciando sua escrita no ano de 2001, pela editora Ciência do Acidente (na qual ele era editor e resgatou diversos nomes da literatura brasileira entre os anos 80 e 90), com Não Há Nada Lá, sua realização já ficou conhecida por um público leitor nacional. Além disso, era possível ver já ali o entendimento do escritor, vindo da poesia, sobre a literatura mundial.

Curva de Rio Sujo, de 2004, foi sua última realização até o início dos anos 2010, quando produziu mais frequentemente. Seus últimos livros lançados haviam sido Do Fundo do Poço se vê a Lua, Guia de Ruas sem Saída, A Tristeza Extraordinária do Leopardo-das-Neves Noite Dentro da Noitetrês deles publicados pela Companhia das Letras.

Nesse ano de 2019, Joca vem com uma nova obra. Dessa vez, retomando a temática social do Brasil, algo recorrente em diversas dos seus trabalhos anteriores. Contudo, ele vai para o terreno da Amazônia, falar sobre uma tribo isolada, ou seja, na qual não teve nenhum contato com o ser humano. Essa, com o nome de kaajapukugi, se vê em um terreno sem esperança com a extinção quase completa da Amazônia. Eles, então contam com a ajuda do sertanista Boaventura e de um antropólogo mexicano para fugir do país. Com essa trama, A Morte e o Meteoro, lançado pela Todavia, adentra profundamente na realidade atual brasileira.

Senta Aí: Como surgiu a ideia de A Morte e o Meteoro?

Joca Reiners Terron: Surgiu de um conto que escrevi pra revista Granta, em língua portuguesa. Quando botei o ponto final, a narrativa do conto continuou a rolar em minha cabeça. Deixei. A trama foi se desenhando diante dos meus olhos como se um espírito kaajapukugi a ditasse, ou Jorge Luís Borges. Mas não sou médium, nem espírita, só atendo o que minha intuição dita. O problema é que minha intuição anda tendo palpites catastróficos.

SA: O livro traz bastante sobre essa questão das chamadas “tribos isoladas”. Como você vê a relação delas com o contato dos centros urbanos e dos Estados?

JRT: Espero que os povos isolados nunca tenham relação nenhuma com as cidades ou com nossa ideia de civilização. É a única maneira deles permanecerem vivos. Também espero que a literatura brasileira se volte mais frequentemente para as margens geográficas do país, para o que chamo de franjas ou fronteiras entre regiões habitadas e lugares ermos. Pois é no ermo e no que está à margem que o o fim do mundo começa.

SA: Existe um tratado político muito forte dentro do livro, especialmente na questão do meio ambiente. Como foi ver esse livro no mundo em um momento de grande discussão sobre a Amazônia?

JRT: Foi tudo pensado, um autor não tem outro tema a não ser o próprio tempo em que vive.

SA: Você coloca o narrador da história como um antropólogo. Por que disso? A ideia seria ter um personagem com um olhar menos padrão sobre esses grupos isolados?

JRT: Pelo contrário, um antropólogo é alguém que estuda a enorme diversidade humana, que a procura entender. No caso de Boaventura, o personagem a que se refere, ele pensa que sabe algo importante sobre os kaajapukugi. Já o antropólogo mexicano não sabe nada, e esse é o aspecto interessante da narrativa, pois ele tem uma visão restrita dos fatos. O leitor descobre o que acontece na mesma medida que ele também descobre.

SA: O livro vai assumindo também um forte lado de ficção-científica. Como você vê a simbologia dessa questão mais científica dentro da trama?

JRT: Não vejo, o leitor é que tem que ver. Eu sou apenas o autor.

SA: A Morte e o Meteoro é um livro pequeno, apesar de um conteúdo mais profundo. Você acredita que a discussão dele, por estar em uma obra pequena, poderá chegar a ainda mais pessoas? Ou não vê essa questão do tamanho como relevante?

JRT: Pela brevidade, espero que o livros seja lido mais rapidamente e gere alguma discussão agora, não depois, como costuma acontecer com livros mais volumosos. É o caso de meu romance anterior, Noite Dentro da Noite, que não foi muito bem compreendido nem lido. Quanto à densidade, é um equívoco acreditar que um livro breve não possa ser denso, e vem de um preconceito ocidental que determina que as grandes ideias exigem muitas páginas. Já os orientais não pensam assim: um só haikai pode conter uma vida. O bom, se breve, duas vezes bom, como dizia o Augusto Monterroso.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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