Entrevista com o diretor português José Pedro Lopes
Nascido em 1982, o cineasta português José Pedro Lopes pouco havia se destacado na carreira como diretor. Muito focado em realizações de curtas, sua produção foi ganhando relevância, até conseguir participar da antologia de horror e ficção-científica World of Death, em 2016. Com isso tudo em mente parecia estar na hora de seu trabalho partir para uma realização mais autoral e sua, criando assim A Floresta das Almas Perdidas. Esse trabalho, se relacionando bastante ao retorno do terror dos anos 60, traz uma história pesada – relacionada ao suicídio -, porém sob um âmbito meio prazeroso. Pode parecer bizarro, mas para José tudo faz sentido. E foi sobre isso que conversamos com ele:
Senta Aí: Seu filme vem em uma tendência do retorno do horror como centro das atenções do cinema. Como você observa isso? Chegou a haver alguma intenção ao realizar A Floresta das Almas Perdidas?
José Pedro Lopes: Sim – na sua essência o grande objectivo de A Floresta das Almas Perdidas é ser um conto de horror. É um filme sobre como a tristeza nos torna vulneráveis a pessoas más e oportunistas. É sobre sadismo, e é sobre a invasão do nosso espaço (casa) e da nossa alma.
Creio que o terror no cinema atual tem apresentado propostas muito arrojadas. Tem dramas “coming of age” (sobre amadurecimento) como o francês Grave, assim como sátiras mórbidas mas politizadas como Corra!, e, ao mesmo tempo, filmes mais mainstream como It – A Coisa ou mesmo a saga Invocação do Mal, que se dedicam mais às personagens, ao drama e à história que o terror comercial fazia no passado.
SA: Dentro do longa você propõe a uma imensa reflexão acerca da própria ideia da vida e do suicídio. Como você observa essa temática relacionada ao cinema?
JPL: O suicídio é um tema abordado com muito pudor e receio no cinema – e na vida em geral. É algo que nos inquieta a todos e é algo que a sociedade tem medo de falar. Muito porque é de uma esfera tão individual, e por vezes tão inevitável, que não conseguimos facilmente controlar.
A Floresta (das Almas Perdidas) é um pouco uma provocação nesse terreno – o suicídio é tema de brincadeira, de conversa ligeira e é mote para algo ainda pior – o homicídio.
SA: Os filmes portugueses tem voltado a ter destaque mundialmente nos últimos tempos. Qual sua observação desse novo fenômeno?
JPL: O cinema português visto em Portugal é bem diferente de visto fora. O cinema nacional continua a lutar para ter a atenção e até o respeito do público português – e não o tem conseguido. O lado comercial do nosso cinema continua muito em baixo.
O lado do destaque – no circuito dos festivais e da crítica especializada – é bom e importante. Mas não é suficiente para dizer que as coisas estão muito diferentes. Deixamos para trás uma era com realizadores como Manoel de Oliveira e João César Monteiro que era consagrados mundialmente, e estão a entrar novos nomes para o seu lugar. Há qualidade, sem dúvida. Mas falta o público – porque só com ele vem a relevância.
SA: Existe uma tradição portuguesa do cinema de terror? Poderia contar mais sobre isso?
JPL: Não existe, de todo. A Floresta (das Almas Perdidas) foi o primeiro longa-metragem português a estrear em cinema em dez anos, desde Coisa Ruim. Temos dois festivais especializados – o Motelx em Lisboa e o Fantasporto no Porto –, mas fora esses eventos só o terror de Hollywood encontra sala e mesmo esse não é um gênero muito popular. Creio que o terror vai muito contra a nossa mentalidade.
SA: No grande clímax o seu longa aproxima-se bastante a um slasher. De que forma você acredita que esse horror mais psicológico e um terror mais gráfico se relacionam na sua obra?
JPL: Eu gosto muito do filme Halloween, de John Carpenter, e queria muito que A Floresta (das Almas Perdidas) se transforma-se um slasher de casa assombrada, como esse filme. Há um lado visual e rítmico para o trabalho de um assassino, e é um trabalho de paciência e calma. Assustador. Halloween e A Floresta fazem isso, mostram isso. Queria que víssemos como Carolina vê os crimes que comete, e toda a espera que isso traz.
SA: Quais seus próximos projetos e pensamentos para o futuro da sua carreira?
JPL: Tenho trabalhado mais como produtor de outros projetos e não me tenho dedicado muito aos meus projetos. Gostaria de um dia voltar ao cinema de terror, sem dúvida.