Em “thank u, next”, Ariana Grande está mais grata do que nunca e pronta para encarar novos demônios

Desde que vimos Ariana Grande ascender em 2013 com “The Way“, parceria com o rapper Mac Miller, temos acompanhado a jornada meticulosa da artista ao estrelato. Seu nome se tornou extremamente popular e sua música atingiu o topo dos charts por todo o mundo. O que ninguém poderia imaginar era que, no percurso, a estrela de 25 anos lidaria com os extremos de viver uma vida sob escrutínio do olhar público, envolvendo-se em acontecimentos amplamente cobertos pela mídia mundial. Um atentado terrorista, um noivado relâmpago mal-sucedido, a morte de um ex-namorado, e questões psicológicas sobre as quais a própria Ariana foi extremamente verbal. Grande mal podia imaginar que o turbilhão de emoções e a maré de trágicos acontecimentos em sua vida pessoal estava longe de terminar após o lançamento de seu último álbum.

Lançado na última sexta feira, “thank u, next” é quase tão intrínseco à sua personalidade quanto “Sweetener“. E embora os álbuns se complementem, ambos agem como duas forças proporcionalmente distintas em sua discografia. “fake smile” funciona quase como uma antítese a “no tears left cry“. Enquanto nesta, Ariana canta sobre deixar os períodos difíceis para trás, em “fake smile“, a aritsta finalmente chega a um consenso sobre não se sujeitar a agir como se sua vida estivesse em seu melhor período. “thank u, next” não se distancia da sonoridade que tornou Ariana Grande a artista mais bem sucedida de sua geração, mas não é necessariamente previsível.

“imagine” é o mais próximo de sua sonoridade tradicional. Não é nem de longe seu esforço mais memorável, mas cumpre bem o papel de introduzir o ouvinte ao material que o sucede. Enquanto “needy” é tudo o que as prévias revelavam – uma balada estruturada em harmonias e no timbre característico de Grande -, “ghostin” é uma poderosa produção em crescente, que funcionaria facilmente como trilha sonora de um filme sci-fi, se não fosse por seu conteúdo lírico. Ariana expõe suas dores e é impossivelmente clara ao referenciar seu relacionamento fracassado com o comediante Pete Davidson, e como a dinâmica entre ambos se tornou conflituosa após a morte de seu ex-namorado e rapper Mac Miller. Mas ao contrário do que era de se esperar, “thank u, next” não está repleto de canções sobre seu relacionamento mais recente. Ela já foi clara o suficiente ao mencionar nomes na faixa título do projeto – a quantidade certa de publicidade gratuita foi cedida. Obrigada, próximo.

Ariana Grande desafia-se outra vez ao explorar novas regiões de sua tessitura vocal. A produção do álbum brinca com distorções e reverberações, como em “bad idea“, uma das canções de maior potencial para single, juntamente à favorita “bloodline” – uma clara referência a seu próprio hit “Side To Side“. “thank u, next” projeta-se como seu esforço com influências mais do que diretas ao hip hop e música trap – vide “7 rings“, single que dividiu opiniões – e “break up with your boyfriend, i’m bored“. Liricamente, não é o seu ápice. “Sweetener” consegue se sair muito melhor em explorar o potencial da artista como liricista. Mas ainda assim, é um trabalho inteligente com frequentes trocadilhos e alto teor de jovialidade que torna sua música atemporal e auto-referencial, sem retrocessos.

A artista encontrou na efemeridade da indústria uma maneira de dinamizar seu trabalho. Seus últimos lançamentos têm sido frenéticos – e extremamente bem sucedidos, diga-se de passagem: entre o vencedor do Grammy de melhor álbum pop vocal, “Sweetener“, e seu mais recente lançamento, “thank u, next“, Ariana esperou menos de 5 meses. O que, para muitos, é uma jornada estressante, para a artista, soa como um modo de liberação.

Esta é uma dinâmica muito comum no hip-hop, estilo predominantemente dominado pelo gênero masculino. Os lançamentos são frenéticos, sem o habitual hiato que artistas – principalmente cantoras pop – tomam para que os fãs e a mídia não os considere “saturados”. Ariana não quer ser impedida de dizer o que tem a dizer através de sua música. Ela parece não se preocupar com o que o grande público ou os veículos de comunicação têm a opinar sobre seu imediatismo. E numa era em que a frequência de lançamentos é exacerbada e o novo é novo por apenas algumas horas, talvez esteja mais certa do que nunca sobre aproveitar este que, provavelmente, é o período mais rentável de sua carreira, antes que seja considerada “velha demais” para tocar nas rádios.

“thank u, next” dá continuidade a um movimento de consolidação que Ariana iniciou há três anos, com o “Dangerous Woman“, seu álbum mais lirica e sonoramente adulto até aquele momento. A cantora parece não querer mais tentar se provar e isto se reflete em seu trabalho. Enquanto atinge seu ápice e conquista seu espaço como uma das estrelas mais populares da história da música pop, assistimos daqui de baixo sua jornada, ansiosamente esperando para descobrir o que vem a seguir.

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