Entrevista com Ramon Porto Mota, diretor de A Noite Amarela

Tendo iniciado sua carreira pelos anos 2000, Ramon Porto Mota sempre foi envolvido ao terror. Seu trabalho foi iniciado em 2011, quando ele começou a dirigir, escrever e roteirizar projetos, criando, nesse meio tempo, a produtora Vermelho Profundo (em 2013). Desde então, o cineasta não tem parado mais com nenhum longa ou curta que venha pela frente, tendo O Nó do Diabo, de 2018, como sua primeira direção em um filme longo. Um ano se passou e agora ele chega aos cinemas com A Noite Amarela, sua nova realização, na qual foi até exibida no Festival de Rotterdam. Veja nossa entrevista com ele abaixo:
Senta Aí: De onde surgiu a ideia para A Noite Amarela?
Ramon Porto Mota: Da minha vida; das pessoas ao meu redor e das histórias que me contaram – A Noite Amarela tem muita coisa das pessoas que eu conheci, muitas delas vão descobrir pedaços de si quando virem o filme, espero que não fiquem brabas -; dos filmes que vi e livros que li; os lugares pra onde fui ou imaginei.

SA: Vi que você chegou a chamar esse filme de um ‘slasher espiritual’. Por que acredita nisso?
RPM: Por que é um slasher onde o espirito é que está em jogo. O corpo no caso é só imagem e que se dilacera de dentro para fora no filme.

SA: Muitas pessoas compararam ele com Corrente do Mal por esse lado da juventude, amadurecimento e horror. O que você acha sobre isso?

RPM: Acho que é uma comparação corriqueira e de pouca inspiração da alma que comparou. São dois filmes de horror, meio esquisitos com adolescentes, ok, mas que vivem em lugares completamente diferentes e vão para lados opostos. Se for assim dá pra comparar a Noite com A Hora do Pesadelo por que são dois filmes de horror com adolescentes que sonham.

SA: Dentro disso, como foi pensada toda essa relação da protagonista com os espaços? Ela sempre é vista muito em uma confusão, tentando se encaixar e chamar a atenção, mas sem entender bem o por quê.

RPM:A Noite Amarela é um filme que se constrói a partir do extra campo, então, essa posição dos personagens no quadro e sua relação com o espaço é essencial pra contar a história. A personagem principal, se comporta feito uma pessoa que não sabe muito bem onde pertencer e onde não pertencer. Assim, o desajuste é mais normal do que pensando em questão de espaço dentro do quadro – ou dentro da narrativa em si.

SA: O quanto existe de Ramon nesse filme, nessa questão do amadurecimento?

RPM: A Noite Amarela é um filme muito pessoal pra mim, mas é também pra Jhésus que escreveu comigo. Acredito que isso tem mais a ver com nossa visão de mundo do que com fatos e atos que aconteceram conosco. Sobre amadurecimento, bom, hoje em dia todo mundo da nossa geração é adolescente com 30 anos, então, quem vai saber?
SA: O terror nacional vive um momento muito especial. Como você tem visto a recepção do público brasileiro em relação a esse novo momento do terror no país?
RPM: Acho esse momento do horror nacional incrível, necessário e maravilhoso. Espero que o publico acompanhe, tem filmes muito bons saindo, como o do Guto Parente e o do Dennison Ramalho. Gostaria de ver mais e mais, inclusive – parece que não vai ser o caso, infelizmente, já que toda uma industria audiovisual tá indo pro saco.

SA: Como você acredita que o gênero pode se utilizar da ideia do medo para falar sobre os diversos temas?
RPM: Olha no estado que as coisas se encontram hoje, eu realmente acredito que o horror é o gênero narrativo que mais se aproxima da nossa realidade. Primeiro, porque nossa realidade está se dissolvendo, e essa é uma característica essencial das histórias de horror. Depois, porque nossa vida diária está infectada, como em um body horror de David Cronenberg minutos antes da metamorfose se completar e o monstro surgir entre nós. Logo eu acredito que só o Horror mesmo pra salvar a gente de falar sobre esse mundo sem pé, nem cabeça que a gente vive.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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