Fleabag e sua segunda (e última) temporada

Spoilers da primeira temporada de Fleabag

Após uma primeira temporada muito forte no lado da comédia e com uma dramaticidade crescente, parecia impossível prever a qual lado Fleabag iria nessa segunda. Com o final impactante da descoberta sobre como Boo (Jenny Rainsford) morreu, Fleabag (Phoebe Waller-Bridge) não entende muito bem aonde está. O distanciamento de sua única amiga, sua irmã Claire (Sian Clifford), parece colocar quase um ponto final em sua vida. Entretanto, após um jantar em família, as coisas começam a mudar de lugar. E a protagonista busca encontrar forças para sobreviver e entender mais sobre si mesma.

Diversas novas questões são exacerbadas nessa segunda temporada. Grande maioria delas extremamente funcionais para o desenvolvimento da narrativa e o fechamento desse arco principal – esses episódios são os últimos. O mais interessante de todos é a aparição do Padre (Andrew Scott), na qual serve de um perfeito complemento aos atos da personagem título. Primeiramente por um lado de amizade sincera, proposto desde o primeiro capítulo desse segundo ano. Essa conexão se desenvolve a quase formalizar uma parceria intrigante, de dois extremos opostos, porém muito necessários um ao outros, nesse período da vida. A cena em que os dois conversam no quintal desse salienta toda essa sincera amizade.

Ao mesmo segundo, em segundo lugar, por um desenvolvimento amoroso. Como é sabido desde o início, Fleabag possui um certo vício em sexo. Anteriormente isso era levado por uma ótica mais cômica, bastante engraçada em algumas sequências. Aqui, é levado para um veia bastante dramática. O Padre se vê até atraído por essa figura feminina, mas sabe que não deve ir a frente com a tentação. Mas, ao mesmo tempo, observa um charme quase onipresente dela. Em alguns instantes existe até um ar meio constrangedor entre os dois, todavia sempre entrelaçados com as conversas mais filosóficas até.

Dentro das novidades, é impossível esquecer também todo um maior desenvolvimento construído na relação das irmãs com a madrasta (Olivia Colman). A direção de Harry Bradbeer é até bastante perspicaz a levantar uma dualidade da personagem. Em algum determinado ponto, ela parece querer estabelecer um elo mais profundo a todos, além de ser uma importante conexão com o pai das duas (Bill Paterson). Porém, os flashbacks – aqui feitos de maneira mais profunda – trazem um outro lado um tanto complexo dela. Isso poderia até gerar um desagrado na recepção presente com a madrasta, mas é feito de forma a ser quase “passado é passado”.

Um dos pontos e arcos mais bonitos nesse segundo ano é o vínculo entre a protagonista e Claire. Sempre atravessados por problemáticas anteriormente, finalizando com uma possível traição perante a Martin (Brett Gelman), aqui elas exacerbam o presente. Tudo começa em um momento ápice do episódio inicial, envolvendo possível relação de aborto e uma confiança mútua. Essa questão vai sendo transformada em uma complexidade para retomar todo o carinho entre as duas, algo necessitado para ambas, como o episódio sobre a festa no trabalho de Claire mostra. Fleabag parece querer trazer essa ligação ao máximo, podendo ter sensações nunca conquistadas ao longo do tempo. A grande finalização é causadora de um clímax essencial para esse arco, visto que sempre foi um dos pontos mais relevantes do seriado.

A segunda e última temporada de Fleabag traz um fim meio agridoce. Se no primeiro ano era o cume do drama, aqui vemos como ele é fundamentado psicologicamente em cada personagem. A “heroína” dessa história está mais quebrada do que nunca. Ela precisa entender e aprender a se resolver no meio disso tudo. Precisa buscar um entendimento próprio sobre sua vida e existência, por isso uma figura religiosa se torna tão conectada a narrativa. Fleabag é uma persona muito mais impactante e complexa do mostrado na capa. Seus sorrisos e a quebra da quarta parede aqui assumem um novo papel. Assume uma busca do público por olhar sob esses mesmos olhos dela. Olhos quebrados, machucados pela vida. Mas, ainda vislumbrando esperanças no futuro.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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