“Me sinto ainda melhor criando histórias com cunho social do que por puro entretenimento”, diz Maurício de Sousa
Criada por Maurício de Sousa há 60 anos, a Turma da Mônica é certamente um dos maiores marcos culturais no imaginário popular brasileiro. Ultrapassando gerações e conquistando leitores até hoje, as histórias dos moradores do Bairro do Limoeiro atravessaram as páginas dos quadrinhos e adquiriram um admirável êxito em diversos segmentos – passando por animações, produtos alimentícios, parques de diversão, livros, brinquedos e até no cinema, com o recente sucesso de Turma da Mônica: Laços – e desse modo, a Mauricio de Sousa Produções (MSP) se tornou a maior empresa de entretenimento do país.
Tendo como alguns de seus pilares a cultura, a educação e o entretenimento, não é incomum que os personagens da turminha sejam vistos em campanhas relacionadas a causas e a inclusão social, além da inserção desses assuntos nas próprias tramas. E, no último sábado (31), na XIX Bienal Internacional do Livro, houve o lançamento de mais uma desses quadrinhos. Um projeto editorial que apresenta a nova história de Edu, personagem portador da Distrofia Muscular de Duchenne (DMD).
Essa é a terceira história do personagem, um menino de 9 anos portador de DMD, doença genética caracterizada pela deterioração muscular progressiva, e no qual foi incorporado a turma em fevereiro deste ano. A nova revistinha destaca o Dia Mundial da Distrofia Muscular de Duchenne, o 7 de setembro, abordando questões como a importância do diagnóstico precoce e a inclusão das crianças portadoras da distrofia. Criado pela MSP em parceria com a empresa de medicamentos genéticos Sarepta Therapeutics, a concepção de Edu faz parte da iniciativa “Cada Passo Importa”, buscando conscientizar a população sobre a doença, de maneira leve e didática.
As HQ’s serão distribuídas gratuitamente no estande da MSP na Bienal. Onde também, no dia 8, às 11h, haverá uma sessão de autógrafos aberta ao público com Maurício.
A inserção de Edu é um grande passo para levar mais representação aos quadrinhos, mas vale lembrar que o menino não é o primeiro personagem deficiente da Turma da Mônica. A turminha tem também Dorinha, com sua deficiência visual, Luca, um cadeirante, e Tati, portadora da Síndrome de Down.
“Eu me sinto muito feliz de poder ter ferramentas para fazer essa conscientização do público. É uma longa história de 60 anos de atividades, que me ensinaram a fazer o que faço”, disse Maurício de Sousa em entrevista ao Senta Aí. “Trazer essa área social ao que produzo é uma maravilha. Me sinto ainda melhor criando histórias com cunho social do que por puro entretenimento. Nós trabalhamos com histórias, e uma história pode salvar vidas. Isso é muito sério, mas é possível e é ótimo conseguir fazer isso”.
Sobre o personagem, Maurício diz não ter se baseado em uma pessoa específica, o que é bastante comum para ele, visto que boa parte de seus personagens são representações de pessoas de sua família, e que todo o trabalho de criação do personagem nasceu após o contato com a Sarepta.
“É incrível ter uma empresa como essa como parceira, nos ajudando com ferramentas, conhecimento, e até mesmo patrocínios e outras coisas. É essencial essa boa relação para a informação ser espalhada da maneira certa, e como artista me sinto muito bem de conseguir fazer algo assim”, afirma.
Sarepta e a Distrofia Muscular de Duchenne (DMD)
A DMD ocorre em um a cada 5 mil meninos em todo o mundo. Com evolução rápida, pode levar à morte na adolescência ou no início da fase adulta. A partir disso, vêm a importância do diagnóstico precoce (facilitado por meio do exame de sangue chamado CK) e do tratamento adequado, para prolongar a qualidade de vida dos pacientes. Apesar de ser passada simultaneamente pelo pai e pela mãe, um a cada três casos da doença ocorre em decorrência de uma mutação genética.
Tendo como principal objetivo desenvolver medicamentos genéticos de precisão capazes de tratar e facilitar a vida dos portadores da doença, a Sarepta viu nos icônicos personagens uma forma de alcançar mais firmemente o público.
“Eu acredito muito na história em quadrinhos como um veículo de informação, não só no racional como no emocional. Se você faz uma propaganda, seja onde for, eu acho muito vazio. E quando a ideia de falar com Maurício surgiu, buscamos fazer algo que sensibilize, que faça diferença na vida das pessoas, de verdade. E quando o Maurício aceitou criar o Edu e fazer as revistinhas, pra mim foi o ápice. Eu tinha certeza absoluta que ia ter esse alcance”, conta Fábio Ivankovich, diretor geral da empresa. “A primeira história foi lançada em março e a segunda em julho. Eu recebo constantemente relatos de mães dizendo que os filhos levam essas revistas para a escola, para os coleguinhas verem e entenderem que ele é diferente. Pra mim esse é o melhor prêmio que eu poderia ter na minha vida, nenhum material informativo teria esse alcance. Nós atingimos o coração e a mente, e isso é maravilhoso”.