“Mesmo com a tecnologia, todo pensamento criativo é humano”, diz Ted Sarandos, chefe de conteúdo da Netflix
“Parte do meu trabalho é ouvir as histórias sendo contadas pelos contadores de histórias”. Assim, Ted Sarandos, chefe de conteúdo da Netflix, revela seu trabalho dentro da empresa de streaming. “Uma parte que é sempre ignorada é como vender uma história. E isso é uma das partes mais importantes de vender um projeto”, ele complementa.
Em um momento deveras delicado para o cinema e as séries nas terras nacionais, Wagner Moura – seu companheiro na palestra – revelou a importância da Netflix para o mercado. “É importantíssimo o fato da Netflix estar investindo nesse momento complicado para o audiovisual”, nas palavras de Moura. E o Brasil se solidificou, no meio disso, como um modelo de negócios a parte. Tendo iniciado aqui em 2011, abrindo o escritório em 2013 e realizando a primeira produção em 2017 (3%), o canal de streaming percebeu a força das terras tupiniquins.
Investir na indústria latina tem sido uma tendência. Utilizando como exemplo Narcos, na qual contém criador espanhol, ator brasileiro e empresa americana, ele solidificou a força da produção verde e amarela. “O Brasil tem talentos incríveis, extraordinários. É por este motivo que estamos animados em aumentar nosso investimento na comunidade criativa brasileira. Esses 30 projetos [alguns anunciados ali], em vários estágios de produção em diferentes locais espalhados pelo país, serão feitos no Brasil e consumidos pelo mundo. É mesmo do Brasil para o mundo”, disse Ted.
Consumo e tecnologia
Falando sobre a concorrência, Sarandos revelou acreditar ser importante cada vez mais novos streamings estarem surgindo. Além do fato da disputa, isso seria também uma espécie de combustível para a locadora virtual vermelha. Mais ainda pelo motivo de influenciar a produção original da Netflix. “É uma nova maneira mesmo de pensar e refletir sobre o consumo. Em um mundo que nossos fornecedores eram nossos concorrentes, precisávamos de algo próprio”, discorre. Ele ainda expõe mais sobre essas mudanças: “A maior parte das coisas na indústria do entretenimento são baseadas no histórico. Podem ter dado certo no passado, mas hoje ainda não sabemos. É um mistério.”
Acima de tudo, para o americano, toda essa revolução tecnológica da indústria não pode afetar o processo criativo. Essa transformação do mercado – imposta pela própria empresa – durou 7 anos. Mas, como serão os próximos 7? O chefe de conteúdo acredita estarmos em um estágio intermediário dessas mudanças de tecnologia, usando de exemplo o filme Bandersnatch e a série de Bar Grylls, no quesito da interatividade. Porém, mostra ainda não saber muito bem o que virá pela frente.
“Mesmo contendo toda essa tecnologia, todo o pensamento criativo da Netflix é para o lado humano. A tecnologia afeta mais no lado dos negócios e não na criatividade”, diz Ted. “Esse é o nosso caminho. A ideia é sempre nos tornarmos melhores aos assinantes e ao público”.