MIDNIGHTS: Taylor fez um filho do Lover com o Folklore

Taylor Swift não consegue tirar férias. Por mais que tenha entregado dois álbuns de inéditas em 2020, ganhado um Grammy de Álbum do Ano, duas regravações da sua discografia, ter atingido #1 com uma música de anos atrás, ela ainda arranjou tempo e histórias para contar num novo álbum de inéditas lançado essa semana. O Midnights surge, como a própria descreve, em uma coletânea de pensamentos e inseguranças que a cantora coletou ao longo de sua vida, em noites de insônia.

Assim, existe uma forte expectativa de que ela entregue composições que fogem de temas românticos ou vingança, como é o costume. Isso acaba acontecendo, mas sem deixar de falar sobre os temas que são seus característicos. Só que são nesses contrários que ela brilha aqui.

Em um dos seus melhores lead singles, “Anti-Hero”, ela faz o que faz melhor: traduz sentimentos complexos e adultos de formas simples e identificáveis para seu público-alvo. Isso se segue para faixas como “Question…?” e “You’re On Your Own, Kid”, que trazem assuntos como lembrança de erros passados e solidão, respectivamente, mostrando uma vulnerabilidade diferente de que vimos de Taylor antes.

Ela abre o álbum brilhantemente, sabendo escolher as músicas certas para conquistar o público. “Lavander Haze” não nos prepara para o que está por vir ao longo do disco, mas nós faz entender que estamos num álbum da Taylor Swift. Seguida pela forte “Maroon”, que mostra todos os problemas que um romance descrito na faixa anterior pode trazer. Com “Anti-Hero” sendo o maior destaque, a loirinha traz Lana Del Rey apenas como backing vocal para “Snow On The Beach”, onde descreve um amor estranho, porém que é lindo. Uma oportunidade desperdiçada, onde as vozes das duas poderiam ter trabalhado juntas num dueto, o que teria enriquecido muito mais a música.

Para o meio do álbum, passando “Questions…?”, é quando sinto que a artista poderia ter trabalhado melhor o lirismo. Apesar de muito produzida, “Vigilante Shit” é uma das musicas que me surpreenderam de estar aqui e não numa Taylor’s Version de Reputation. Apesar de todos saberem que, sim, a Taylor foi muita vezes injustiçada por homens na indústria, não era nesse álbum ou com esse tom que esperaríamos ouvir, conhecendo a capacidade da compositora. Além de ser inacreditável que um CD da cantora que compôs o Folklore ter uma musica chamada “Karma”.

Taylor traz nesse álbum o seu fiel escudeiro da produção Jack Antonoff. Aqui ele faz sua produção mais inspirada em anos. É a melhor coisa que ele produziu desde o próprio Folklore. Tem algo sobre entender os Taylorismos que só ele sabe como fazer. O grande trunfo de um álbum pela primeira vez não são suas letras e sim o que a produção fez com elas. Até mesmo as mais fracas se tornaram interessantes, como “Sweet Nothing” e “Bejeweled”.

Encerrando a sua viagem de auto julgamento com “Mastermind”, a cantora entrega uma obra de conceito fechadinho mais uma vez. Depois dos grandiosos Folklore e Evermore, além do sucesso absoluto da versão de 10 minutos de “All Too Well”, o Minights traz uma artista com menos força. Para um décimo álbum, parece que ela ouviu toda sua discografia, pegou alguns highlights, e colocou aqui. Mesmo não sendo seu melhor trabalho e quebrando as expectativas, ela continua mostrando o quando ainda tem para nos dar como liricista e como cantora.

Midnights não é melhor trabalho de Taylor Swift, mas está longe de ser o pior.

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