O serial killer bonzinho?

Quando estreou mundialmente durante o Festival de Sundance, em janeiro deste ano, Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal colocava o serial killer Ted Bundy como uma figura diferenciada. A ideia do diretor Joe Berlinger – conhecido por realizar diversos documentários, incluindo um sobre o próprio assassino – era buscar uma face mais palpável do personagem. E não em um sentido de realidade, mas sim em relação a sua família, pessoas próximas e como era visto na rua. Isso tudo está baseado no livro “The Pantom Prince: My Life with Ted Bundy”, escrito pela sua ex-esposa Elizabeth Kendall. Ela retrata sua quase sempre presunção de inocência em relação ao marido, pelo fato de não imaginar ele realizar tais ações. Bom, é nesse ponto que toda história começa.

Retratar sua trajetória dessa forma requer um olhar bem diferenciado a sua personalidade, por isso o filme acaba o tempo todo mostrando seus sentimentos e um ponto de vista dele mesmo para os fatos. Com isso, fatos comuns no cinema para retratar sua persona, como contra-luz e câmera subjetiva, aparecem com certa frequência no decorrer das quase 2 horas. E isso pode até parecer chocante para alguns, contudo, como Berlinger revelou em diversas outras situações e circunstâncias, o objetivo era realmente trazer algo novo na trajetória de serial killers pela sétima arte. Como eles se transformaram nisso? Como as pessoas nunca perceberam? Essas são algumas respostas na qual o longa busca revelar.

A obra havia sido comprada pela Netflix e possui uma relação bem próxima com o série documental Conversando com um serial killer: Ted Bundy, também comandado por Berlinger. Apesar disso, ele foi lançado aqui no Brasil nos cinemas (já está em cartaz) pela Paris Filmes, causando uma estranheza nesse fato. Mas, fato é, a sessão dupla dessas duas obras artísticas gera um maior entendimento sobre sua personalidade. Como o filme ficcional pouco explora suas ações e seus atos diretamente, o documentário talvez seja uma sessão mais interessante aos que buscam esse lado psicopático de Ted.

Zac Efron, ainda muito reconhecido pelo seu trabalho na trilogia High School Musical, começa a tentar desvincular seu trabalho como ator disso. Antes dessa participação já havia tido destaque em O Rei do Show, de 2017, e ainda fará esse ano o mais novo trabalho de Harmony Korine. Nada em comum é estabelecido em todas essas atuações, apenas a ocorrência dele buscar cada vez mais uma versatilidade na sua persona. Esse efeito é muito parecido com o que houve com Kristen Stewart e Robert Pattinson logo após o fim da saga Crepúsculo.

A busca por uma independência em seu trabalho artístico não atinge apenas Efron, mas também sua esposa durante a trama, interpretada por Lily Collins. Ela é outra a ter seu nome vinculado em um gênero específico, no caso a fantasia (com participações em Instrumentos Mortais e Espelho, Espelho Meu). A filha de uma brasileira Kaya Scodelario é outra marcada pelos papéis voltando para um lado fantástico, especialmente a trilogia Maze Runner. Ela realiza talvez a atuação mais diferente de sua carreira, um certo deslumbre para os fãs da saga citada anteriormente. Impossível não citar também Jim Parsons, famoso mundialmente por The Big Bang Theory, apesar do seu pequeno papel na trama. Por fim, Haley Joel Osment parece estar retornando aos poucos para o cinema. Após seu sucesso no início dos anos 2000, quando era criança, em produções como O Sexto Sentido e Inteligência Artificial, ele tenta trazer nova vida para sua carreira.

A tentativa de Joe Berlinger em trazer novidades para Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal pode soar interessante e diferente para alguns, assim como extremamente bizarra para outros. Isso pelo fato, simplesmente, de trazer uma face ainda mais cativante e comum da figura de um dos mais famosos serial killers dos Estados Unidos. Sua concepção pela opinião pública obviamente não é a apresentada durante o longa, mas sim no documentário citado antes. A brutalidade de seus atos nunca será apagada, contudo a visão propositiva de sua personalidade parece um desafio muito mais polêmico do que propriamente diferente.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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