Os 22 anos de “Buffy, a caça-vampiros”

É possível dizer que os papéis femininos obtiveram um grande avanço nos últimos anos. A representação da mulher na mídia sempre foi alvo de críticas, já que as poucas produções comandadas por personagens femininas podiam ser pautadas em clichês e esteriótipos, agravando algo já notado em coadjuvantes. Durante os meados dos anos 90, não se falava tanto sobre feminismo e representatividade como se fala hoje, em 2019. Talvez tenha sido por isso que Buffy, a caça-vampiros se destacou tanto e virou o fenômeno que hoje atravessa gerações.

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No dia 11 de março de 1997, estreava no The WB (na época, um canal pequeno com pouquíssimos títulos de destaque e audiência moderada) a primeira temporada da série. A premissa é simples, e para alguns, até risível: Buffy Summers, uma adolescente californiana de 16 anos, muda-se para a pitoresca cidade de Sunnydale com sua mãe. À primeira vista, Buffy parece mais uma das diversas alunas do colégio Sunnydale que se preocupam com popularidade, garotos, compras e aparência. E embora a jovem de fato tenha esses assuntos em mente, ela também deve se preocupar constantemente com o fim do mundo. Escolhida através de um culto milenar, Buffy é A Caçadora, uma mulher que nasce a cada geração destinada a enfrentar vampiros, demônios e outras forças do mal. (Segundo a própria abertura da série, narrada por Anthony Stewart Head.)

Foi através dessa sinopse quase infantil que o criador Joss Whedon criou uma das séries mais populares dos anos 90, que atravessou gerações e se mantém hoje como um dos produtos mais queridos por seu público. O seriado conquistou fãs ao redor do mundo não só com uma premissa divertida mas também com uma ótima mitologia por trás, um roteiro excelente e personagens e atuações marcantes e carismáticas. Sarah Michelle Gellar, que interpretou a protagonista durante os sete anos de duração da série, já disse em diversas entrevistas qual é o ponto alto da produção que mais chama sua atenção. Segundo a atriz, as aventuras com monstros e seres sobrenaturais eram a maneira perfeita de discutir, de maneira sutil e bem escrita, problemas típicos da adolescência (e da pós-adolescência, já que acompanhamos o personagem desde o fim do ensino médio até a faculdade e o início da vida adulta) como relacionamentos abusivos, problemas com seus pais, crescimento pessoal e responsabilidade, senso de identidade própria, violência doméstica e até mesmo estupro e homossexualidade.

O filme

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O que muita gente esquece (ou quer esquecer) é que antes de se tornar uma aclamada produção televisiva, a ideia de Whedon era que Buffy fosse apenas um filme. Tudo começou como uma resposta aos clichês de filmes de terror, onde uma moça linda era perseguida por um monstro em um beco e morta logo depois. Whedon inicialmente começou com um projeto chamado “Rhonda, a garçonete imortal”, até chegar à ideia que originou o filme de 1992. No entanto, a história original do roteirista (era o primeiro filme de Joss, que antes trabalhava como assistente na sitcom Roseanne) foi reduzida e reescrita diversas vezes pela produção e até mesmo elenco. Encabeçado por nomes conhecidos como Kristy Swanson, Luke Perry, David Arquette, Donald Sutherland e até mesmo uma iniciante Hillary Swank, o filme foi um fracasso de crítica e audiência. Felizmente, Whedon não desistiu e 5 anos depois trouxe a personagem de volta através do seriado.

7 anos depois…

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O fato é que poucas pessoas esperavam que a produção fosse pra frente. Buffy estreou como um tapa-buracos para a fall season em março de 1997, e quando o último episódio foi o ar em junho, já era um dos melhores índices de audiência da casa. Esse sucesso logo garantiu temporadas mais longas e maiores orçamentos, o que permitiu que o seriado crescesse cada vez mais em termos artísticos e comerciais. Angel, o vampiro que vivia um romance proibido com a protagonista, ganhou seu próprio spin-off ao final do terceiro ano; a quarta temporada contou com um episódio quase inteiramente sem diálogos (o elogiado “Hush”), e a quinta temporada trouxe a morte de um personagem essencial, trazendo o tema de luto e morte (algo comum em uma série sobre mortos vivos) de uma maneira realista e crua. O episódio rendeu a Sarah Michelle Gellar uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Atriz, algo surpreendente e raro para a época já que o The WB não era um canal cujas produções se destacavam pelo reconhecimento em prêmios de tal porte.

O legado

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O último episódio foi exibido em maio de 2003. Para o elenco e a produção da série, aquele realmente parecia ser o fim definitivo, para a tristeza dos fãs mais saudosos. Felizmente para eles, quatro anos depois os personagens voltaram em outra mídia: os quadrinhos. Ainda que a marca Buffy já tivesse publicado diversos quadrinhos e livros durante a exibição original, nenhuma fez parte da linha cronológica oficial da série até “A Long Way Home”, publicado em 2007. Os três primeiros arcos da publicação da Dark Horse foram escritos pelo próprio Joss, e contava com a arte de nomes como Georges Jeanty e Karl Moline. Foi um sucesso de vendas e o que inicialmente planejado como uma história de 25 edições expandiu-se até 40. Já que a história é canônica, a publicação era intitulada como a oitava temporada. Nos quadrinhos, graças à liberdade imaginativa proporcionada pela ilustração, a série toma caminhos cada vez mais insanos, mas sem deixar o espírito original de lado: se temos personagens virando centauros em uma edição, na próxima há uma discussão sobre aborto. Isso durou até junho de 2018, quando a série foi enfim finalizada na décima segunda temporada. Confira abaixo uma das capas oficias:

Remake, reboots, continuações?

Ainda que o criador oficial da série se mantivesse ocupado com outros projetos (pós-Buffy, ele criou a cultuada Firefly, um sci-fi espacial, o drama de ação Dollhouse e outras produções para televisão e cinema, mas talvez seu maior destaque seja a direção e roteiro de Vingadores Vingadores: Era de Ultron), os direitos da personagem pulavam de empresa para empresa, que vez ou outra sugeria trazer a caçadora de vez. A Warner Bros. chegou a contratar uma roteirista para uma nova versão prevista para lançamento em 2012, mas o projeto foi abortado devido à insatisfação com o roteiro. Ano passado, durante a San Diego Comic-Con, foi anunciado que um reboot chegaria às telinhas em breve, dessa vez com uma protagonista negra. O público recebeu a notícia de maneira mista. Novos quadrinhos foram anunciados, dessa vez trazendo os personagens de volta ao colegial.

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O fato é que, enquanto estiver disponível, Buffy sempre estará por aí conquistando e agarrando novos fãs e trazendo-os impiedosamente para sua caótica e complexa vida em Sunnydale, junto de Xander e Willow, caçando e exorcizando vampiros e demônios. É uma missão que vem sendo sucessivamente concluída com sucesso há 22 anos, e eu não acho que isso vá parar tão cedo.

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