Primeiras Impressões – Only Murders in the Building

Histórias conectam pessoas. Essa é a síntese da ficção, e, por isso, narrativas simples conquistam milhões de aficionados que lotam estádios, livrarias e salas de cinema. Do ser mais solitário à pessoa mais extrovertida que alguém pode conhecer, há a probabilidade de que elas compartilham o gosto por alguma coisa, seja um filme, artista musical, um romance ou um jogo. Esse pode não ser o elemento que mais chama atenção em Only Murders in the Buildingmas certamente é o que está no coração da história.

A comédia criada por Steve Martin, Dan Fogelman e John Hoffman fala sobre três pessoas completamente diferentes que vivem no mesmo prédio em Manhattan. Charles (Martin) é um ator que já fez muito sucesso em um seriado de investigação e atualmente não tem muita paciência para seus vizinhos (ou qualquer outra pessoa). Oliver (Martin Short) é um sorridente diretor de teatro que não deixa que os problemas financeiros destruam seu dia. Por último, há Mabel (Selena Gomez), uma jovem mulher que claramente não poderia pagar o apartamento onde mora, com um gosto pelas artes e pela própria privacidade. Não demora muito para que os três descubram algo em comum além da moradia: a paixão por podcasts sobre assassinatos reais (ou “true crime”). Quando alguém morre sob circunstâncias misteriosas no prédio, o trio não acredita tanto na teoria de suicídio quanto a polícia parece fazer. Decididos a descobrir a verdade, Charles, Oliver e Mabel criam seu próprio podcast enquanto investigam o assassinato do vizinho, Tim Kono.

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Há uma hierarquia presente na definição dos gêneros do seriado: ele é primeiro uma comédia, depois um mistério e, por último, uma paródia. Com dois veteranos do humor encabeçando o trio principal (e uma estrela do calibre de Gomez que passou anos desenvolvendo um eficiente timing cômico em produções juvenis), faria sentido que a sátira e o humor seriam os elementos mais fortes da produção. Principalmente quando o “whodunit” (ou o famoso “quem matou?”) é o principal fio condutor da história, um gênero que, exatamente por ter suas convenções tão bem definidas na cabeça do público, torna-se um alvo de piadas muito fácil.

Mas é exatamente nesse espaço que Only Murders in the Building encontra suas forças. Uma paródia boa pode ser encontrada em um bom exemplo do que está parodiando. Isso pôde ser visto com Entre Facas e Segredos, de Rian Johnson, que funciona como sátira, homenagem e como um bom exemplo do que torna um mistério uma narrativa tão interessante de se acompanhar. Exemplos mais distantes vão até Não é mais um besteirol americano, comédia de 2001 que buscava fazer graça com o boom de comédias românticas adolescentes e acaba entregando, entre piadas escatológicas e imitações exageradas, mais uma fita de romance juvenil igualmente divertida e cativante.

O mistério na série é simples, mas muito eficiente em sua missão: conectar nossos três protagonistas e colocá-los atrás do mesmo objetivo (e paixão). A cada episódio, uma nova peça é entregada a disposição do público, não só sobre os desdobramentos do assassinato principal, como dos passados e personalidades dos nossos protagonistas. Se a divertida troca entre Martin e Short garante algumas risadas, as revelações que a ligação de Mabel (Gomez) com a investigação tornam o enredo mais rico e bem elaborado do que se poderia esperar. Dessa forma, é muito satisfatório acompanhar uma produção que se propõe a seguir três caminhos diferentes e ter sucesso em todos eles.

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Ainda assim, mais do que um bom mistério e diálogos espertinhos, o seriado tem um grande coração. Em meio a uma cinematografia sóbria, podem ser encontradas pequenas doses de charme e fofura que podem fazer o espectador mais desatento esquecer que está vendo uma história de mistério (inclusive sem economizar no gore, quando necessário). Esse acaba se tornando o mote principal: a paixão e a curiosidade por algo em comum se transformam em uma camaradagem, que se transforma em um laço que move toda a história. Estamos acompanhando figuras que não são só “aficionados por crimes reais”, mas admiradores de uma história e que se encontram em um bom lugar ao comandar uma narrativa. Não é por isso, afinal, que podcasts (ou qualquer outra forma midiática) cativam tantas pessoas?

No fim desses primeiros episódios, Only Murders in the Building é uma grande lembrança do poder de que boas histórias sempre alcançam alguém – não importa quanto sangue esteja envolvido.

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