Crítica – When You Finish Saving the World

Ziggy (Finn Wolfhard) é um jovem cantor, cujas músicas, transmitidas pela internet, alcançam 20 mil pessoas em todo o mundo, oferecendo para elas o que ele chama de “férias” dos problemas do mundo. Sua mãe, Evelyn (Juliane Moore), trabalha em um abrigo para mulheres que ela mesmo construiu, além de ser uma pessoa interessada em diversos assuntos políticos. Os dois expressam enorme simpatia com seus respectivos públicos e causas, no entanto, ao lidar um com o outro, todo esse afeto se esvai, e eles raramente conseguem se entender plenamente.

When You Finish Saving the World, estreia do renomado ator Jesse Einsenberg na direção, coloca de modo muito preciso a enorme diferença de perspectiva entre os dois. O filme abre com uma série de fotos de pessoas variadas, que compõem o público de Ziggy, que se reúnem em suas transmissões para ouvi-lo cantar, nos dando a perspectiva global da sua atividade. Logo em seguida, vemos Evelyn, com uma câmera mais colada nela, mais íntima, andando pelos corredores do seu abrigo para interromper uma cantoria. É aniversário de uma das funcionárias do abrigo, porém a música está atrapalhando algumas mulheres do local. Um canta, a outra interrompe canções, nenhum dos dois errados em suas tarefas, mas expondo um conflito imediato entre os dois.

Esse conflito, entre Ziggy e Evelyn, é o foco da narrativa, só que seus dramas se espalham também para outras partes de sua vida. O jovem está apaixonado por uma menina politicamente engajada de sua escola. Logo ele também quer ser alguém “politizado”, mas não faz a menor ideia de como fazer isso, já Evelyn vê em Kyle (Billy Bryk), filho de uma das mulheres do abrigo, o filho gentil e prendado que sempre quis ter, e tenta ajudá-lo da maneira que pode.

Apesar de não ser um filme exatamente político, embora possa ser argumentado que relações entre pessoas sempre será política, é uma produção preocupada em como certas posturas se desdobram na vida mais íntima desses personagens, frequentemente tão arrebatados em seus interesses que se esquecem daquilo que está ao lado. Enquanto Ziggy está preocupado em ser uma pessoa engajada e Evelyn em ajudar Kyle, os dois esquecem que um parente próximo iria receber um prêmio, ficando ausentes na cerimônia.

É, de certa forma, uma espécie de comentário sobre como atitudes progressistas nem sempre alcançam aqueles mais próximos de nós, assim como pode se tornar uma espécie de arrogância, nos afastando daqueles que mais amamos. Evelyn, com seu histórico militante, não consegue disfarçar que vê as atividades de Zigg como frívolas. Este, por sua vez, acredita que sua música faz muito mais do que sua mãe pode fazer com o abrigo.

When You Finish Saving The World não é um drama de “grandes cenas”. É tudo muito comedido, sutil, com os conflitos entre as partes sendo evidenciados por meio das relações dos personagens com aqueles ao seu redor, deixando bem claro que, por mais que essas pessoas tenham as melhores das intenções, nem sempre suas ações refletem isso, e que o caminho para que isso se resolver, deve partir mais de dentro, do que de fora.

Texto para nossa cobertura do Festival de Sundance 2022

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