“Quero falar de amor e da potência do indivíduo em meio ao caos”, diz Rodrigo Suricato
Quando estreou com sua banda Suricato em 2009, o vocalista e instrumentista Rodrigo Suricato não sabia o que viria pela frente. Com a ideia de passar entre o folk, rock, MPB, entre outros gêneros, o grupo se transformou em um sucesso na primeira edição do programa Superstar, na TV Globo, em 2014. Anteriormente, já haviam lançado um primeiro álbum, chamado de Pra Sempre Primavera. Eles acabaram ficando entre os finalistas dessa edição, contudo não venceram – aquele prêmio foi da banda Malta. Rodrigo resolveu continuar a investir em seu projeto e o sucesso começou a aumentar mais, com músicas tocando em alguma das principais novelas da mesma emissora.
Passado um tempo disso, o cantor entrou, em 2017, para o clássico grupo Barão Vermelho. Após a saída de Frejat, ele assumiu um posto extremamente complicado, seja pelo lado dos fãs, seja pela questão de tomar um novo lugar na sua carreira.
Chegando em 2019, Rodrigo resolveu retornar com o nome na qual lhe fez sucesso. Nisso, Suricato lançou recentemente Na Mão As Flores, trabalho na qual busca uma sonoridade mais leve perante ao que ele vinha realizando. Porém, será que isso foi uma busca por mudar um pouco da sonoridade trabalhada no Barão? Para ele, não.
“A maior influência foi o bem estar e a felicidade de estar num processo coletivo não tóxico. Não vejo influência nas canções pois já tinha composto o repertório antes de entrar no grupo”, conta Rodrigo em entrevista exclusiva ao Senta Aí.
Composto de 11 canções escritas e produzidas durante os anos de 2017 e 2018, o CD busca elementos mais claros de um folk pop. Talvez isso tenha uma certa relação também com a produção, feita não apenas pelo vocalista, mas em conjunto com Marco Vasconcellos. A variação, já experimentada mais claramente na ida para outro ambiente, aqui parece ter influências em um outro período de vida. Um momento de muito mais felicidade.
“A sensação de leveza vem da simplicidade de tratar de questões complexas. É um aprimoramento de linguagem do que sinto e sou. Mas estou sim na prateleira dos “good vibes” e no momento pessoal mais feliz da minha vida”, continua ele. “Fui meu próprio material de pesquisa. Fiz música pra me curar, entender minhas angústias, mas sem me esconder de uma intenção pop, de refrão. Amo refrão. Sonoramente falando, flertei com elementos mais eletrônicos pra evoluir meu folk do estereótipo bucólico, vaquinhas passando, etc. Não vivo isso”.
Em um período político do Brasil mais complicado, com uma certa disputa muito forte, ele não foge de se posicionar também. As mídias sociais cobram a cada novo dia dos artistas posições mais claras sobre seu espectro e defesa, especialmente devido a um certo confronto do presidente Jair Bolsonaro com a parte cultural do país.
Rodrigo coloca esse debate imposto ao título, principalmente. A leveza de sua vida também está traduzida em uma busca de união de todas as pessoas. Isso fica mais claro durante a própria canção título, na qual o carioca para de um lado da musicalidade na sua voz, para poder expressar através de versos uma certa indignação perante a muitas coisas. Como o mesmo diz nesses versos “A gente nunca quis só comida, diversão e arte ; A gente nunca quis só balé; Mas amar e ser amado pelo que a gente é”. Além disso, um cover de “Como Nossos Pais”, de Elis Regina, ainda põe mais luz a esse tema.
“O amor precisa ser mais praticado que falado. A humanidade está discutindo relação, isso vai passar”, ele relata. “Em tempos de arminhas com os dedos quis batizá-lo de “Na mão as flores”. Quero falar de amor e da potência do indivíduo em meio ao caos. Procuro enxergar o comportamento da humanidade como um todo. Somos mais que partidos e bandeiras políticas. Enquanto o homem não se encarar sozinho e em silencio numa sala, continuaremos repetindo os erros”.
Desde quando o Suricato começou diversos integrantes estiveram ao lado do cantor principal. Houveram algumas polêmicas saídas desses antigos membros, sendo alguns reclamando mais publicamente e outros de maneira indireta. Um desses casos foi do ex-baixista Raphael Romano.
Sobre isso, o artista coloca bastante seu lado, especialmente por essa questão de bastidores. Ele contou que a banda foi remontada de uma forma um tanto quanto rápida, principalmente pela participação no programa da Globo.
“Não serei deselegante em expôr publicamente os bastidores tristes da deteriorização da formação televisiva do meu trabalho. Posso dizer resumidamente que a Suricato já existia 5 anos antes da frutífera participação na TV. E que quase todos os integrantes iam aos shows de lançamento do meu primeiro disco e todos eram declaradamente meus fãs até então. Aconteceu que alguns diretores da emissora, igualmente admiradores do meu trabalho, me convidaram para participar da primeira edição do Superstar. Então montei uma banda, completamente às pressas, de pessoas que nunca convivi para representar minhas canções na TV. Tudo playback exceto a voz”, revela ele.
“É importante dizer que, com ou sem aquelas pessoas, eu já estava escalado para participar da edição de qualquer jeito, com quem quisesse. Montei um time que julguei competente pra retratar o conceito que minha música pedia na época. Então tratei de fazer os arranjos, decidia as músicas com a direção do programa, o instrumento que cada um usaria, a posição no palco, conceito estético do trabalho junto à minha mulher, incluí todos nas entrevistas, busquei empresários, abri empresa, paguei contador, respondia email, mediava os temperamentos, dividia o cachê igualmente e fazia o lanchinho na minha casa. Em contrapartida eles gravavam a base da canção no estúdio e tudo que precisariam fazer em seguida era estarem felizes, disponíveis e dublarem as músicas para milhares de telespectadores que se tornariam fãs. Bom negócio, não? Nessa profissão, o reconhecimento repentino pode te destruir se você não tiver uma estrutura de caráter bem definida, ainda mais quando existe o amparo da lei”, continua sobre toda a situação.
“Não tivemos tempo de ser uma banda nem criarmos vínculos afetivos duráveis. Tudo era corrido desde o início e já percebia enorme incompatibilidade na nossa pouquíssima convivência, até nos momentos mais felizes. Então, o boleto chegou e não fomos capazes de um entendimento, embora eu tenha a consciência que fiz o que pude para que aquilo que cada um tinha de mais potente pudesse ser valorizado publicamente, como nunca tinham sido até hoje, dentro de um projeto de alguém. Sou profundamente grato mas meu tempo é hoje. A vida é curta pra ser pequena. Desejo sorte à todos”, finaliza.
Essas modificações da banda é observada por Rodrigo de um jeito um tanto diferente. Para ele, esses núcleos criativos ajudam a transformar toda a musicalidade do grupo. Entretanto, o cantor observa isso de um jeito diferente, visto que o Suricato é a sua banda.
“Olhando em retrospecto, a única vez que me senti banda foi no primeiro disco, com Diogo Gameiro. Éramos uma dupla. A partir daí foram coletivos montados, sempre às pressas, para um programa de TV aqui e acolá, posteriormente para a formação Lollapalooza. Essa era uma puta banda”, comenta. “Eu adoro núcleos coletivos pois posso liderar a história de maneira mais horizontal, todo mundo sabe quem tem a palavra final, mas existe esforço de colaboração. Tenho inúmeros defeitos, mas acreditava tanto nisso que fazia questão até dos roadies e técnicos saudarem a platéia no fim do show junto a banda. Mais de 12 pessoas já passaram por esse coletivo, sou amigo da maioria, mas Suricato sou eu e o que meu coração decide ser”.