Resenha – But Here We Are (Foo Fighters)

O ano de 2022 não foi fácil para o Foo Fighters, especialmente a seu líder, frontman, vocalista e principal letrista, Dave Grohl. Primeiramente, em março, nas vésperas de tocarem no Lollapalooza Brasil, o baterista Taylor Hawkins morreu. Cerca de quatro meses depois, Grohl teve outra perda totalmente arrasadora: sua mãe. A situação não parecia nada fácil e houve até mesmo rumores que o grupo iria acabar de vez. O elo era o criador e esse elo parecia ter sido desfeito. Contudo, ao enfrentar mais um grande problema em sua vida, o também guitarrista resolveu dar a volta por cima. E pouco mais de um ano depois de perderem Hawkins, a banda lança But Here We Are, o 11º de inéditas.

O título já mostra bem o que veremos. Em tradução livre, “Mas Aqui Nós Estamos”, como um desabafo após tudo. A capa, aliás, corroba esse sentimento de vazio, mas da busca de algo. Um branco muito forte, em que é quase impossível de conseguir enxegar o título do novo trabalho. Apesar disso, é justamente nas músicas que os sentimentos ficam ainda mais claros. A faixa de abertura, uma das melhores da obra, “Rescued”, dá o tom do que veremos pela frente. Quase sempre gritada pelo vocalista, seu refrão reforça: “Eu só estou esperando para ser resgatado”. É a necessidade de um abraço, na qual todo o álbum parece incorporado.

É até interessante como o Foo Fighters não foge disso. Ele consegue incorporar esses sentimentos nas próprias canções, como sempre fez, só que é algo que aqui ainda parece mais complexo. Nesse sentido, parece que todos recuperaram uma boa forma dos melhores álbuns do grupo, caso de There Is Nothing Left to Lose, de 1999, e Wasting Light, de 2011. Os dois colocam lados diferentes dos integrantes ao longo dos anos. Enquanto o primeiro soa quase como um pop rock em certos momentos, o segundo se aproxima até mesmo a um trabalho de hard rock e metal. But Here We Are parece quase um meio termo disso, como em uma verdadeira essência deles.

A sequência inteira reforça esse sentimento de solidão e tristeza, que quase destoam com alguns riffs da guitarra e uma bateria sempre gritante. A segunda, “Under You”, por exemplo, diz “Tem alguns momentos que eu queria alguém; Tem alguns momentos que eu me sinto sem ninguém; Tem alguns momentos que eu não sei o que fazer”. A própria faixa-título, “But Here We Are”, também expressa a mesma sensação: “Eu te dei meu coração, mas aqui nós estamos; Te salvei do meu coração, mas aqui nós estamos”.

Talvez isso tudo reforce elementos que o próprio grupo nunca fez antes. Como ao soar quase em uma experimentação de pop-rock em “Show me How”, que tem vocais de Violet Grohl, filha de Dave. Ou até mesmo caminharem para sonoridades similares ao indie rock, como em “Nothing At All”, com uma voz distorcida do vocalista, e que tem um refrão parecendo um Foo Fighters do primeiro disco autointitulado, de 1995.

Fica claro como But Here We Are parece um trabalho múltiplo, mas que soa, acima de qualquer coisa, um grito em desespero. Desde por parte do vocalista Dave Grohl, até mesmo na guitarra que parecia soar cada vez mais leve de Pat Smear, ou no baixo onipresente de Nate Mendel ao longo dos quase 50 minutos de disco. Infelizmente, ao escutar, a memória de Hawkins fica eternamente na lembrança de todas as faixas, especialmente de sua bateria sempre marcante para a sonoridade do Foo Fighters. Agora o que resta é seguir em frente, especialmente na melhor versão de si mesmo, como mostraram os membros. Afinal das contas, aqui nós estamos.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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