Resenha – Gioconda (HQ)

A concepção dos sósias é um aspecto bem curioso dentro da sociedade. Ao mesmo tempo que existe uma similaridade inerentemente física, também colabora um aspecto da diferença das personalidades e estilo de ser de cada uma das pessoas. Contudo, uma das características mais marcantes dentro da história da arte ao abordar esse aspecto é a quase incapacidade de saber como foram muitas dessas pessoas. Especialmente aquelas anônimas retratadas em quadros de grandes artistas famosos, e que geraram especulações de muito tempo para saber quem são. Talvez o mais famoso desses casos, e que gere mais curiosidade, seja a figura de Monalisa, produzida por Leonardo Da Vinci.

Com isso, os autores Felipe Pan, Olavo Costa e Mariane Gusmão tentam reconstruir uma figura dessa personagem histórica em uma perspectiva de uma trama única de amor. É assim que nasce a HQ Gioconda. O nome, obviamente, é retirado da obra original do italiano conhecida também como ” La Gioconda”. Assim, vemos a vida de um faxineiro do Museu do Louvre, o brasileiro Francisco. Ele adora trabalhar por lá para olhar todos os dias o quadro de Da Vinci pelo qual é apaixonado. Mas tudo começa a gerar confusão na cabeça dele quando enxerga, no caminho para casa, uma mulher idêntica à Monalisa. Ele, então, se apaixona por completo na materialização da figura.

O quadrinho trabalha dentro de dois âmbitos bem óbvios: o primeiro, em uma grande homenagem para o mundo das artes plásticas; o segundo, em contar uma narrativa de fascínio. É curioso como esses dois elementos claramente estão interligados, já que fazem um sentido por abordarem o trabalho de um artista. Nesse caso, é quase como a HQ fosse autoconsciente de tudo que está acontecendo perante a própria realização da obra pelos três autores. De certa forma, é quase como eles quissessem trabalhar de forma direta todo esse processo criativo que vem, no mundo das artes, há muito tempo.

Entretanto, o romantismo acaba sendo o grande palco do desenvolvimento de Gioconda. O roteiro de Pan traz um aspecto interessante ao enxergar o desenvolvimento da relação não diretamente, mas sempre por terceiros, principalmente com Francisco contando sobre. Esse ponto transforma a narrativa em menos realista ao falar sobre a relação entre os dois, trazendo para um aspecto fantástico, de uma contação de história. E isso faz total sentido com a forma como o quadrinho está querendo trabalhar esse universo e uma irrealidade tão possível em nosso mundo: seja na paixão, ou na arte por si só.

Todo esse quesito acontece de maneira bem direta pelos autores na arte e no texto. Um exemplo é quando o protagonista da trama vai conhecer o pai de sua amada. Adivinha o nome? Leonardo. Tudo para ele parece tão palpável, ao mesmo tempo que extremamente irreal. E como acreditar em um mundo assim? De que jeito conviver com essa dualidade sendo colocada sob si mesmo? Ele se questiona disso, porém olhando para como seu grande amor sempre foi algo idealizado. No caso, um quadro. Por que não acreditar em um mundo, mesmo que de mentira, que parece verdadeiro?

Em uma grande admiração para um universo da produção artística, Gioconda é uma HQ que gosta de ir até o fundo de seus personagens para compreender um mundo comum a todos, mas também extremamente fantasioso. Em certo sentido, é uma ode à arte, ao mesmo tempo que também é uma ode para o trabalho daquele que produz a arte. Para isso, Felipe Pan, Olavo Costa e Mariane Gusmão constroem uma história menos interessada em querer abordar os vários aspectos desse cosmo por si só. Ele é, antes de qualquer coisa, a tentativa de encontrar o amor em qualquer lugar.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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