Resenha – Garota.11 (Amy Suiter Clarke)
Obras que retratam a febre do podcast true crime parece ser algo que ainda está engatinhando dentro do mundo da cultura pop. Por ser algo recente e ainda pouco verdadeiramente aprofundado dentro dos debates popularmente, talvez as tramas pareçam ainda precisar de algo a mais para poder se desenvolver. No entanto, algumas se sobressaem nesse sentido. Recentemente, há o caso da série Only Murders in the Building. E, agora, a Companhia das Letras lança também Garota.11, que consegue subverter e brincar sempre com a lógica e o conceito do true crime.
Dessa forma, acompanhamos a história de Elle Castillo, uma apresentora de um podcast super famoso de crimes reais. Ela chega na quinta temporada com um caso que sempre foi obcecada durante toda a vida: o Assassino da Contagem Regressiva. Há 20 anos atrás, esse serial killer assustou toda a comunidade, matando sempre meninas com um ano diminuindo da outra. O problema é que, depois da sua última vítima, ele sumiu e ninguem nunca soube o motivo. A maior possibilidade é que tenha se suicidado. Enquanto Elle conta toda essa história da perspectiva das vítimas do criminoso, ela começa a se envolver com o caso do desaparecimento de uma menina – o que a faz questionar se o serial killer estaria de volta.
O pano de fundo usado por Amy Suite Clarke rememora muito o caminho que Stephen King sempre gosta de fazer: nos ambientes menores e mais inóspitos, acontecem as piores coisas. É essa a perspectiva dentro de uma cidade que parece sofrer um luto eterno por essas perdas do passado. É interessante como o livro articula entre uma trama narrativa, em que acompanhamos, especialmente, tudo sob a ótica e pensamentos da protagonistas, com transcrições do podcast. Desse jeito, é quase como se o texto estivesse nos jogando, a todo momento, dentro dessa realidade, que fosse impossível de escapar. O sofrimento perpassa por todos os lados.
Mas Garota.11 está bem longe de ser uma obra que vai apenas buscar uma condição dramática e filosófica por parte dos personagens. Acima de tudo, além dos questionamentos temáticos, Clarke coloca essa história de uma ótica também investigativa, em que acompanhamos o desenrolar dos acontecimentos, enquanto tentamos desvendar quem é o serial killer. Porém, ela deixa claro, a todo momento, que Elle esconde até de si mesma alguns segredos, que “deturpam” a forma como esse desenvolvimento vai acontecer. Só que longe de ser algo mais curioso, visto que, justamente, nos aprofundamos nos pensamentos para viver cada situação por parte dessa personagem principal.
A narrativa do livro gira em torno do debate sobre a ética dentro dos true crime. A autora deixa isso bem claro no desenvolvimento do texto com, por exemplo, diversos policiais mais duros criticando a realização do podcast. No entanto, não é apenas uma crítica por si só, e sim uma busca por compreender de que maneira esses assassinos se utilizam de um lado psicológico para se transformarem em “imortais”. Algumas transcrições de episódios do podcast – especialmente aqueles que não vão ao ar – parecem trazer algumas pistas sobre isso. É claro, Clarke não busca, de forma nenhuma, trazer respostas claras, apenas um lado mais moralista por parte dos questionamentos.
Garota.11 consegue trazer um elemento de bastante curiosidade dentro de uma trama que parece não caminhar bem a esse lado. Enquanto tem um tracejo mais adolescente na forma de tratar a narrativa, Amy Suite Clarke busca ser mais clara e incisiva ao retratar os detalhes sobre as mortes e também a moralidade em torno dessa história. Mais do que tudo, é, definitivamente, um livro sobre reflexões. Apesar de puxar para um caminho de não querer respostas e responder, de todo o jeito, a produção consegue ser intrinsicamente conectada com nossos tempos.