Crítica – Only Murders in the Building (1ª Temporada)

Divertida, tocante e rápida, Only Murders in the Building encerrou sua primeira temporada como um sucesso de audiência na plataforma Star+ e com uma segunda temporada já encomendada. Apesar de ser uma história com pouca preocupação em inovar, o carisma de seus personagens e a agilidade e engenhosidade do enredo, acabam fazendo do seriado um dos títulos mais interessantes e peculiares do ano.

A história se passa em um bairro nobre de Manhattan, acompanhando a vida de três personagens que tem pouquíssimo em comum. Steve Martin é Charles Savage, ator aposentado que já não colhe mais os louros de seus dias de glória interpretando um detetive particular em um seriado procedural há mais de duas décadas. Já Martin Short dá vida ao produtor teatral Oliver Putnam, que já não consegue financiar suas produções com a mesma facilidade de antes e busca se reconectar com sua família. Completando o trio principal, Selena Gomez interpreta Mabel Mora, uma jovem artista que valoriza sua privacidade e pouco além disso. Os três moram no mesmo endereço, o prestigioso condomínio The Arconia, e têm suas vidas entrelaçadas quando um alarme dispara no prédio Charles, Oliver e Mabel, que são inegavelmente solitários, a dividir um jantar. Quando descobrem um morador foi encontrado morto, o trio passa a desconfiar que ele foi, na verdade, assassinado.

A primeira temporada é desenvolvida com agilidade e bom-humor, construindo e desconstruindo o mistério principal e seus personagens de forma dinâmica e sempre criativa. As peças e pistas são dispostas ao mesmo tempo em que conhecemos os protagonistas de forma orgânica e cheia de afeto. Apesar dos maneirismos que constroem o humor ao redor dessas figuras, a produção olha para elas com cuidado e conta suas histórias de forma humana e quase encantadora. Centrada em figuras perdidas em solidão, a conexão que o trio principal encontra ao redor de boas histórias o aproxima ainda mais do espectador. Afinal, não estão fazendo a mesma coisa? Criando esse senso de apego, vem junto o aprofundamento do risco e do senso de perigo. Portanto, apesar dos inúmeros momentos de ternura, a série também não deixa ninguém esquecer qual é o mote central da história. É como se a mais charmosa das comédias românticas estadunidenses dos anos 90 tivesse como fio condutor um terrível assassinato.

Os diferentes formatos utilizados ao longo dos episódios também enriquecem a trama, exatamente por dar esse enfoque humano ao que está ao redor. The Arconia, a morada dos protagonistas, é um personagem à parte, com seus segredos e suas peculiaridades. O catálogo de vizinhos e potenciais suspeitos do crime nunca é desperdiçado, exatamente porque os roteiristas entendem o peso que os coadjuvantes representam numa história como essa. A metalinguagem aqui é utilizada de maneira exemplar. A série homenageia as narrativas de true crime, sem deixar de fazer graça de seus elementos mais bobos ou entender porque fazem tanto sucesso.

Todos esses êxitos narrativos poderiam passar despercebidos se não fosse por um elenco tão afiado. Martin e Short são lendas da comédia e logicamente não deixam a desejar nesse quesito – apesar de Short ter se beneficiado com as falas mais espirituosas e divertidas -, mas também se destacam ao trazer todos os sentimentos que estão escondido atrás de suas piadas com sutileza. Poderíamos ter passado mais tempo com Martin Short e seu drama familiar, porém é em Steve Martin e Selena Gomez que está o coração da série. É evidente o carinho que os personagens sentem um pelo outro e suas trocas pela diferença etária são tão tocantes quanto espirituosas. Se Gomez constrói sua Mabel com o mistério e o carisma necessário para tornarem a personagem tão atraente como ela parece ser, Martin brilha entregando um personagem rico em melancolia, tristeza e bondade. Os três equilibram bem o drama e a comédia que ressoam em seus personagens, assim como na história em si.

Only Murders in the Building faz episódio sem falas; saiba por que

Only Murders in the Building é, no fim, uma carta de amor ao amigos que se formam por uma paixão em comum. É uma ode à conexão humana que lembram porque, afinal, precisamos tanto de arte e de boas histórias. Com personagens cativantes e um mistério bem construído, é uma série que nunca subestima quem está assistindo e sempre convida o espectador a descobrir novos olhares, ainda que venham do mesmo lugar. É como fazer um amigo que sempre esteve ali.

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *