Resenha HQ – Guarda Lunar (Tom Gauld)

Criar histórias sobre a solidão podem ser fáceis para trazer algumas muletas narrativas. Assim, se estamos abordando uma narrativa sobre um homem sozinho em uma ilha, como no filme O Náufrago, pode ser tranquilo trazer elementos dentro daquele ambiente que rememorem o passado, o que faz com que nos relacionamos com o mesmo. Da mesma forma, ao explorarmos uma espécie de ambiente apocalíptico, o ambiente da solidão traz diversas reflexões para um protagonista, como no livro Eu Sou a Lenda, em que é necessário sobreviver. Porém, e se essas características importassem menos que a simples felicidade? É um pouco desse trajeto que Tom Gauld observa em Guarda Lunar.

Na trama, acompanhamos a vida de um policial da Lua. Porém, o grande problema é que sua função está se tornando um pouco ultrapassada, já que os moradores do local vão cada vez retornando para Terra ou outros planetas da Galáxia. Assim, ele se vê em uma espécie de vida num eterno marasmo, buscando formas de encontrar um sentido para o que está fazendo ali, já que tudo parece não fazer mais sentido por não ter ninguém a quem zelar.

Dessa maneira, Gauld busca um minimalismo onipresente em todos os ambientes. Isso serve sempre a elucidar a grande temática que a HQ está trabalhando: a solidão em um mundo de cada vez maior conexão. É bem óbvias as referências que o autor busca trazer para uma realidade pós-moderna, em que as relações são mais distantes. O que ocorre de troca entre o protagonista e outros personagens são sempre questões muito frias. Um dos exemplos mais claros disso é quando ele ajuda uma mulher a recuperar um cachorro que esteve perdido. Nisso, a conversa entre os dois acaba perpassando para uma tentativa de expressar visualmente a questão: “qual a verdadeira finalidade de estar na Lua?”. O autor traça em diversos planos contemplativos essa busca, que acaba sendo muito fria, sem quaisquer relação de afeto.

É fato que Guarda Lunar não está em uma busca eterna para desenvolver um universo ou trabalhar questões com um ou outro personagem. A grande intenção narrativa é, através desse policial, reforçar os laços distantes dessa sociedade. Apesar de estarmos tão grandes na esfera da ciência e tecnologia – a ponto de poder ter uma guarda em solo lunar -, também estamos muito longe de adquirirmos uma proximidade de mundo, de entendermos uns aos outros. Isso claramente poderia ser feito como uma forma de quase soar didático ou até bastante pretensioso. O grande X de tudo é que Tom está mais interessado nos diversos efeitos sensoriais que cada uma das sequências desenhadas irá causar.

Estar longe de casa pode ser uma forma de tentar se compreender, entender em que lugar do mundo verdadeiramente estamos. Portanto, ao nos depararmos em um universo de possibilidades, a necessidade do social nunca se mostra tão relevante. É importante a troca e o aprendizado proposto pela descoberta. Mas, e se chegarmos em um ponto do nosso mundo que isso fosse apenas irrilevante? Em que o mais importante de qualquer questão fosse apenas estar afastado um dos outros e poder simplesmente deixar de lado o lugar cheia de possibilidades para o homem. Afinal das contas, mesmo na Terra, estamos verdadeiramente solitários e sendo deixados de lado? Guarda Lunar não entrega respostas fáceis, mas Tom Gauld propõe indagações a uma eternidade passageira da humanidade. Isso porque, no fim das contas, poderemos estar apenas sozinhos e na companhia de andróides.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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