Crítica – O Último Jogo
No futebol, tão importante quanto as partidas, é o clima que é criado em torno das mesmas: as piadas, zoações e afins. Parte integral disso é, também, as rivalidades, que acirram ainda mais as paixões dos torcedores, como Flamengo e Vasco, Barcelona e Real Madrid, e talvez a madrinha de todas, pelo menos para nós, brasileiros, que é Brasil e Argentina. E é nessa “treta” tão integral para nossa identidade nacional que o longa O Último Jogo se apoia para sua narrativa.
A trama se passa na pequena cidade brasileira de Belezura, próxima a fronteira da Argentina, onde existe outra pequena cidade, a 9km de distância, com a qual possuem uma disputa acirrada, que se dá, logicamente, no campo de futebol. Mas o jogo entre os rivais ganha novos contornos quando o principal meio de sustento de Belezura, a fábrica que é o coração da cidade, anuncia que está em vias de sair do local, o que coloca todas as atividades econômicas em risco, e torna a última partida entre os dois locais uma questão de honra.
Há um quê de Wes Anderson na forma como o diretor Roberto Studart constrói o mundo de O Último Jogo, não por meio das simetrias tão caras ao cineasta americano, mas sim por Belezura ser um espaço bem colorido, com figuras notadamente excêntricas, como o astro do time, Califórnia (Pedro Lamin), que além de jogador, é poeta e pintor, e que atua em campo com um cigarro na boca, ou o boleiro andarilho Expedito ( Bruno Belarmino), que vai de cidade em cidade encantando a todos com sua habilidade com a bola, ao lado da sua Ruiva (Betty Barco). Expedito é o grande catalisador da narrativa, já que seus truques enchem os olhos do time de futebol, que passam a vê-lo como o grande salvador da equipe.
Boa parte da trama se desenrola a partir das artimanhas realizadas para mantê-lo na cidade até o dia do jogo, que será num domingo, com o longa se preocupando em marcar muito bem os dias da semana, e também das mudanças que resultam da sua presença, como o crescente interesse de Califórnia pela companheira de Expedito – que ao mesmo tempo que faz parte do plano para manter o jogador na cidade, também é genuíno. Assim, o filme se preocupa em ser uma comédia leve, em que as situações nunca possuem consequências muito graves de verdade, como por exemplo, envenenar os cachorros do técnico do time adversário, situação que gera ameaças, claro, mas que nunca se concretizam.
Apesar de sempre ser agradável, essa leveza toda acaba prejudicando a produção, já que a necessidade emocional desse último jogo nunca é, de fato, sentida. O que era pra ser a última alegria de uma cidade que encara seu fim, quando ocorre soa mais como uma partida qualquer mesmo, apesar da comoção. A questão do fechamento da fábrica que sustenta a cidade pouco é levantada durante a narrativa, e nem mesmo a demissão de um dos personagens causa muita comoção, assim, O Último Jogo é engraçadinho, mas a falta de peso dramático relacionados a certos elementos da trama acaba tornando toda a experiência um tanto vazia.