Restart está de volta, e essa é uma ótima oportunidade de analisar de novo a banda

Depois de oito anos, a banda Restart está de volta, em meio a febre da retomada de estilo, música, e produções diversos dos anos 2000. O grupo fará uma turnê de encerramento, com shows por todo o Brasil. O início é no dia 7 de outubro, no Espaço Unimed, em São Paulo, mas eles ainda farão apresentações no Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre em 2023. Já em 2024, terão datas em Belo Horizonte, Distrito Federal, Salvador e Recife. Contudo, mais do que tudo, essa volta é uma ótima oportunidade do público em geral e da crítica musical repensar a relação e a forma como os quatro foram tratados de 2008 até 2015, no fim.

Primeiramente, é preciso analisar os anos e entender que o Restart não é de nem de longe um fenômeno brasileiro. Nascido no fim dos anos 1980 e início dos 1990, o pop punk teve suas raízes fortalecidas em riffs de guitarra mais dançantes e canções com letras menos políticas ou complexas que o punk já buscou, se intensificando em uma juventude que queria um som para chamar de seu. Dessa forma, o subgênero foi se desenvolvendo, inicialmente, com bandas como Green Day e The Offspring. Contudo, no decorrer dos anos, ele foi abraçando cada vez mais o pop, mesmo com uma sonoridade ainda pesada em algumas bandas. Desse jeito, surgem Yellowcard, Blink-182, Sum 41 e mais.

Assumindo a sonoridade cada vez menos punk e mais voltada ao pop rock, o pop-punk também abraçou uma estética que abarcava desde o emo até elementos mais coloridos, com grupos como Paramore, Panic! At The Disco, My Chemical Romance e a principal influência inicial do Restart, Fall Out Boy. De fato, isso pode estar soando estranho para você que desde sempre nutriu um certo preconceito pelo visual super colorido do grupo, na qual atraiu um grande público feminino infanto-juventil. Entretanto, desde sempre eles conseguiram rememorar bem musicalmente tudo isso e, ao mesmo tempo, soar uma espécie de versão brasileira.

Lançado no fim de 2009, o álbum homônimo soa como um grande tapa na cara em quem se recusava a ouvi-los. O riff inicial da abertura, com “Recomeçar”, seguido de uma bateria pesadíssima e quase contrastada de Thomas, é algo que parece vindo diretamente dessa mescla de estilos citados antes. Mas, devo admitir, a segunda desse disco, “Vou Cantar”, é a melhor. A que mais consegue construir uma verdadeira ideia do que seria o Restart dali para frente: uma banda que abraçava as letras românticas adolescentes, junto de uma sonoridade mais pesada do que se espera na estética.

É claro que, como todo grupo que tinha um público alvo semelhante, os maiores sucessos ficaram com as baladas, talvez reforçando ainda mais esse preconceito. Casos de “Levo Comigo”, “Menina Estranha”, “Matemática” e “Pra Você Lembrar”, apesar de bem diferentes entre si, soam para um caminho comum. Todavia, elas mostram também essas multiplicidades sonoras que Pe Lanza, Pe Lu, Koba e Thomas conseguiram imprimir. Nelas, é possível ver elementos de MPB, ska e até surf music, na qual parecia um interesse também dos quatro integrantes.

Entretanto, By Day (2010) e Geração Z (2011) ainda tem claros elementos do pop-punk, que fizeram eles serem quem são. A abertura do primeiro, “Breve História”, mostra isso de um jeito bem claro, com um riff sempre pesado e uma voz de Pe Lu que sempre busca uma espécie de eco. Do mesmo trabalho, “Como Tem Que Ser” chega até mesmo a soar como um rock alternativo. Já do segundo disco citado, “Nosso Rock”, “Não Sei Quem Sou” e “Meu Mundo” são alguns dos exemplos de como a banda conseguiu nunca perder verdadeiramente a identidade e as referências, mesmo buscando ser cada vez mais original em si.

O lado mais interessante de observar após quase 10 anos do fim, é que o Restart parece como uma banda como tantas outras do momento. Para ser honesto, até um pouco melhor, visto que conseguia fugir de uma grande cópia e trazer elementos bem próprios de cada um dos membros. Ao ouvir seus discos, o pesado e o suave conseguem se relacionar de forma muito imponente até os tempos presentes. Por isso, que bom que retornaram como grupo e aos palcos. E que seja uma ótima oportunidade para repensar todo o ataque que sofreram durante muito tempo.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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