Review: HAIM – Something To Tell You

Após 4 anos sem trabalhos a serem lançados, as irmãs californianas do HAIM voltam a estúdio com seu projeto ”Something To Tell You”.

Pra quem já está familiarizado com a família de irmãs, esse tempo passado é resultado nesse novo álbum, que está em processo criativo de composição e gravação desde o sucesso de ”Days Are Gone”, álbum de estreia do trio. Com singles surpreendentemente sucessivos e que deram as meninas a chance de ser atrações sempre confirmadas em festivais como o Coachella e o Reading na Inglaterra, a expectativa de anos de tour confirmadas e passadas criativas tem o seu peso hoje.

Informações Gerais:

  • Lançamento: 7 de julho de 2017
  • Gênero: Pop Rock, Soft Rock, RnB
  • Gravadora/Distribuidora: Columbia Records/Polydor Records
  • País: Estados Unidos

Após grandes turnês a promessa de algo mais além de tunes como ”Falling” e a divertidíssima ”The Wire”, as HAIM passaram por uma longa jornada de conhecimento e muita (mas muita mesmo) expectativas, tanto pela banda quanto pelos fãs já aflitos.

O trio tem tido seus holofotes bem focados, e com razão. É um dos grupos mais interessantes que rolam em estações de pop/rnb, com uma mistura muito animada do folk sensitivo dos anos 60, o disco groove dos anos 70 e o feeling de sintetizadores pop dos anos 80.

De acordo com a banda em recentes entrevistas, parte de Something To Tell You é influência de conselhos dados pela lendária artista Stevie Nicks. Para quem não está familiarizado com nomes, parte do que Nicks fez em sua vida artística é o que HAIM tenta incorporar atualmente sem parecer datado. Ex-vocalista da banda de inspirações blues, folk e basicamente tudo o que conhecemos do pop rock hoje em dia Fleetwood Mac, o jeito perfeito para as irmãs completarem esse projeto era escrever um diário. E foi isso que elas fizeram.

 

 

Iniciando nessa jornada jornalística pelo diário das HAIM, começamos o álbum com a faixa ”Want You Back”. Simples, com muita agitação e um baixo efervescente (e talvez o único), ela faz um jus sendo destaque do álbum com um vídeo. Por essa faixa, esperamos algo mais transparente e esclarecedor, mas o ritmo do álbum parece não mudar, e isso não é algo bom.

”Nothing’s Wrong” chega logo em seguida, abrindo um trabalho mais transparente e divertido que o HAIM adora (e faz bem) com os vocais compartilhados. A partir daí, começamos a entender que tudo nesse álbum é sobre lamentos de relacionamentos diferentes. Bom… A faixa que a sucede, ”Little Of Your Love”, só se torna óbvia não ser a mesma que a faixa anterior pela mudança brusca de ritmo, mas com a mesma entonação da de antes. O começo do álbum nos dá a impressão de ser uma gancho de uma longa e grande faixa, que só tem um trecho de transição de mudança de volumes e teclados alarmantes. A repetição dos mesmos tipos de refrão continua.

 

 

”Ready For You” é uma das únicas faixas que parecem sair um pouco do mesmo lugar da onde (parece) que nunca saímos. O que aquele Rumours animado no começo do álbum, apesar de monótono, parece ter no deixado pra mais um round de tunes monótonos. Com uma pegada mais ”rockista”, Ready For You tenta ao máximo tentar sair daquele clima disco, mas não consegue de jeito nenhum sair do mesmo tipo ritmo/refrão.

”Something To Tell You” começa, e você gradualmente vai sendo arrastado para o que estávamos tentando evitar de sermos entediados por. Com um começo lento puxado da faixa anterior, nem as diferenças de ritmos musicais da voz principal de Danielle consegue disfarçar que nós estaríamos revisitando o mesmo ritmo de 2 faixas atrás, incluindo os mesmos lamentos.

 

 

A metade do álbum se marca pela faixa mais folk do álbum, ”You Never Knew”. Digamos que… Seja uma grande revisita a Rumours de novo, mas sua parte mais acústica. A música é bem agradável, mas os refrões parecem ecoar como se fossem sempre a mesma coisa que já estamos passando a 10 minutos atrás. Contando com essa faixa e a introdutória ”Want You Back”, o sentimento de embasamento do trabalho no baixo de Este está bem longe, sendo cortado por certos detalhes mais forçados como back vocals mais graves e com auto-tune ecoantes que não melhoram em nada a falta de sentimento.

Falando em dinâmica de back vocals, estamos em ”Kept Me Crying”, que com o título de maior lamento dentro do álbum, não parece em nada ser o que se passa. Mais uma baladinha com o mesmo tempo e compasse, agora mais da metade da música é trocado por auto tunes em colaborações de vocais secundários e um riff de guitarra bem distorcido de finalização e mais uma quebra de volume a passar de faixa.

”Found It In Silence” é basicamente uma música solo para a vocalista principal, Danielle. Com pequenas batidas e um baixo distante, Danielle acompanha o ritmo do seu teclado até chegar a um refrão ecoante e ”Walking Away” está tocando. Sendo a faixa com maior presença de instrumentos elétricos, é uma pequena prosa com um sintetizador atrás, um senso de RnB dos mais famosos, mas nada de surpreendente, muito menos climático. É a única faixa em que parece que as irmãs tentam conectar suas habilidades vocais, mas mesmo assim não saem da mesmice de refrões repetitivos.

 

 

Chegando a última parte do álbum, temos ”Right Now”, primeira faixa revelada do novo álbum ao público. Em uma versão ao vivo em estúdio (bem diferente da do álbum, diga-se de passagem) dirigida por Paul Thomas Anderson, a sincronia da faixa ao vivo parecia um sonho distante ao que viria a ser a sua versão atual. A faixa, com o ritmo totalmente diferente, cheio de sintetizadores, mais eco e a total exclusão de qualquer percussão e vocal interessante mostrado no vídeo, acaba com toda a empolgação restante. Sendo decepcionante em álbum e atordoante ao vivo, não dá pra afirmar que isso é uma qualidade, e sim uma falta de garantia. O que uma faixa que é precisamente uma diferença clara entre trabalhos anteriores virou uma versão literalmente dissecada por altos efeitos ”anos 80” e um riff berrante completamente desnecessário e sem cuidado nenhum… Completamente diferente da proposta inicial, e que do lado de músicas explosivas como ”Falling”, EP de 2013, parecem algum tipo de paródia do original.

 

 

Tentando esquecer a decepção ”pós-produção” de ”Right Now”, terminamos com a calma ”Night So Long”. Sofrida em todos os sentidos, mais uma faixa sem a menor presença do que a banda sabe fazer de melhor. E é claro… Com aquele back vocal ecoante no final, que parece já ter virado um carimbo de má vontade, terminando o álbum seco e num silêncio absurdo. Tudo o que nos resta nesse breu é realizar que o álbum é uma escada que começa na mais alta altitude e que de repente quebra ao mais baixo silêncio e falta de interesse.


Você pode ouvir o álbum completo pelo Spotify:

6/10

Palavra Final

Em um tempo de artistas notáveis em sua ”curva torta” a direção do pop mais mainstream, nomes como Lorde, Carly Rae Jepsen e até o novo álbum solo de Harry Styles parecem mais promissores quando lembramos de Fleetwood Mac e suas produções ”pop rock”. Com tudo isso em mãos, nem a participação artística do diretor Paul Thomas Anderson trás empolgação quanto ao futuro do projeto.

Faixas em destaque: Want You Back, Nothing’s Wrong.

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Clarissa Ferreira

Carioca, estudante de jornalismo e aspirante a diretora. Montadora de playlists profissional, puxa saco de mulheres na arte em geral e ativista em prol do cinema em tempo integral. Nas horas vagas, escrevo sobre filmes como forma não só de entender mais esse mundo mas buscar com que outros entendam e amem também. Vocês podem me achar pelo Twitter e pelo Letterboxd como: @clariexplains.

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