Santa Clarita Diet – 3a temporada: Abrace a farofa

Quem esteve presente entre o final dos anos 1990 e o começo dos anos 2000, com certeza sabe que o rosto de Drew Barrymore era um daqueles que estava em todos os lugares. Conhecida como uma das rainhas das comédias românticas, o sorriso amigável da atriz já invoca simpatia e até conforto em quem acompanhou e curtiu seus descompromissados (e não por isso menos importantes) acréscimos ao cinema ocidental.

Talvez seja por isso que assistir Santa Clarita Diet, a comédia da Netflix que estreou sua terceira temporada na última sexta-feira (29/03), seja uma experiência tão curiosa e ao mesmo tempo satisfatória. Com uma premissa que foge do comum, a série encabeçada por Barrymore e pelo surpreendente Timothy Oliphant se mostra hoje como uma das mais irreverentes e subestimadas comédias não só da gigante do streaming, mas até mesmo de toda a televisão.

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A história fala sobre como a vida do casal de imobiliários Sheila e Joel Hammond (Barrymore e Oliphant, respectivamente) vira de cabeça pra baixo quando, em meio a um dia típico de trabalho, Sheila sofre de intoxicação alimentar. No entanto, conforme o dia chega ao fim, todos os sinais físicos indicam que Sheila está, na verdade, morta. Além disso, ela desenvolve uma fome cada vez mais forte de carne. Não demora para que Sheila, Joel e até mesmo sua filha Abby se deem conta de que a matriarca da família realmente se tornou em uma morta-viva.

A premissa de Victor Fresco não demora para engatar em uma série de acontecimentos inusitados e pra lá de bizarros. A primeira temporada, lançada em 2017, é recheada de momentos cômicos embalados a muito gore enquanto o casal tenta manter o novo segredo da família seguro e criar uma maneira de Sheila se alimentar sem comprometer a bússola moral dos Hammond. Enquanto isso, Abby conta com a ajuda de Eric, seu vizinho socialmente inepto, para descobrir como e porquê isso aconteceu e o que mais tem por trás disso. O maior trunfo desde o começo são as performances carismáticas de Barrymore e Olyphant. Enquanto ela tira de letra e entrega falas absurdas com naturalidade, ele surpreende por mostrar afinidade clara com a comédia. Além disso, Liv Hewson e Skyler Gisondo não ficam para trás. Com uma dupla competente no protagonismo, seria difícil não ser ofuscado. A dupla não só precisa se preocupar com isso, como até rouba a cena deles. No entanto, ainda que possua uma trama que te deixe curioso para o desfecho, os primeiros dez episódios tem um ritmo confuso, culminando em um final aberto que beira o anti-climático.

É na segunda temporada que tudo começa a fazer sentido. O roteiro finalmente se encontra, equilibrando bem o núcleo dos adultos, dos adolescentes, explorando bem o humor e o absurdo dos mortos-vivos de Santa Clarita e desenvolvendo uma mitologia própria na mesma medida, fazendo da produção não só uma comédia regada a sangue, mas também um universo a ser explorado (ainda que seja da maneira mais escatológica e engraçada possível). Talvez pelo formato de Netflix de fazer um grande filme de dez horas e dizer que é uma série, os episódios passam voando, com ganchos cada vez mais fortes e os personagens em apuros cada vez piores. Talvez o único erro desse segundo ano seja se livrar fácil demais de Ramona (Ramona Young), um personagem cujo papel poderia ser melhor aproveitado, já que, além de hilária, ela se mostra importante para o desenrolar da narrativa.

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Essa terceira temporada, portanto, é o epítome de todas as qualidades apresentadas nos anos anteriores. Embora a exploração do lore tenha sido abordada com um pouco de seriedade antes, aqui tudo isso é jogado fora e voltamos ao clima da primeira temporada. A série não se leva a sério em momento nenhum e isso é com certeza seu maior trunfo. Novos antagonistas também são apresentados, tão galhofas quanto os heróis, mas não menos perigosos. Em um determinado momento, você se pega torcendo para que os mocinhos parem de perder tempo e comecem logo a assassinar seus inimigos, sem deixar de dar risada. Embora não traga nenhum pioneirismo em sua maneira de contar história ou em sua trama, Santa Clarita Diet é inevitavelmente um frescor em meio ao extenso catálogo da televisão atual, lotado de dramas ganhadores de prêmios e superproduções. É justo até dizer como a produção poderia receber mais reconhecimento em premiações em categorias de Comédia, pois sem dúvidas todo o elenco apresenta um trabalho acima da média, elevando o roteiro com que trabalham um nível acima com uma entrega ainda melhor.

Este último final pode ser um dos piores (no bom sentido) ganchos da série até daqui. Como a Netflix está se tornando a nova NBC no quesito “cancelar produções que não são divulgadas e portanto não tem a audiência que mereciam”, não é exagero dizer que um quarto ano pode ser algo incerto. Ainda assim, é um dos muitos tesouros subestimados produzidos pela gigante do streaming e sem dúvida merece a sua atenção se você gosta de um elenco entrosado, comédia absurda e, claro, muito sangue.

 

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