Afinal, o novo O Rei Leão é live-action ou não?

Uma discussão que se inflou nas redes sociais durante os últimos 4 dias foi a de: o remake de O Rei Leão é realmente um live-action ou é uma animação? Os mais diversos comentários aconteceram defendendo ambos os lados, mas para realmente entender foi melhor ir na etimologia da palavra e entender do que se trata realmente esse termo, além de suas relações na indústria.

Segundo o dicionário oficial de Cambridge, a palavra live-action é, em filmes (em tradução livre):

Ação envolvendo pessoas reais ou animais, não modelos, ou imagens desenhadas ou produzidas em computador.

Nem sempre é fácil pensar a diferença entre live-action e um filme animado.

Ok, partindo desse pressuposto não muito conclusivo, vamos mais a fundo dentro dessa temática. Primeiramente, nas palavras do dicionários, há uma marcada para produções de imagens desenhas ou produzidas em computador, o tradicional montion capture ou captura de movimento. Nessa técnica, as imagens dependem do computador para serem trabalhadas no sentido da animação, mas as mesmas são capturadas com câmeras reais e com atores presentes. É importante relatar sobre essa mescla, que já gerou diversas obras como Avatar, a nova trilogia do Planeta dos Macacos, Mogli: O Menino Lobo, aonde todas podem ser consideradas live-action. Dessa forma, para o live action existir, há uma necessidade dessa congruência entre os atores (seja por captura de movimento ou não) e a tecnologia.

Em entrevista ao The Hollywood Reporter, o coordenador de efeitos especiais de Mogli e O Rei Leão, Rob Legato, revelou considerar esses filmes como uma virtual production (produção virtual). É uma nova maneira de pensar o uso dessa tecnologia de captura, junto com tela verde, animação tradicional e CGI:

Eu não considero isso um filme de animação. Eu considero isso apenas um filme, e esta foi a melhor maneira de fazer isso. Ficamos confortáveis ​​para Jon Favreau [diretor desses dois filmes] entrar e ser capaz de dirigir como se fosse um filme de live action.

Com isso, temos uma nova forma de conceituação dentro desse meio. Esse termo incia uma nova forma de abordar essa ideia da própria maneira de produzir animação. Como disse o escritor Fábio Barreto em um texto publicado sobre o assunto, o conceito de produção virtual é mais atual “pois parece termos ultrapassado as definições correntes e precisamos de algumas novas”.

Para tentar buscar uma definição ainda mais precisa dentro dessa complexa discussão, o Senta Aí conversou com Delcio Gomes. Gomes é brasileiro e trabalha como animador 3D na IML (Industrial Light & Magic), empresa de efeitos visuais e computação gráfica fundada por George Lucas, criador da saga Star Wars, em 1975. No ano de 2012, a empresa passou a ser propriedade da a Walt Disney Company, com a compra das propriedades intelectuais de Lucas.

Ao questionarmos sobre se o longa poderia se encaixar dentro desse rótulo, ele respondeu:

Na verdade, essa e uma discussão recorrente na indústria de VFX. Se eu coloco uma gota de leite numa xícara de chá, eu falo que estou tomando um chá. Já se eu coloco uma gota de chá numa xícara de leite, eu estarei tomando… chá??

Na minha opinião, esse é um filme de animação sim, mesmo que se use alguns recursos tradicionais de live action. No final, a totalidade do filme será criada por artistas digitais, não muito diferente de filmes de animação realistas como Final Fantasy e O Expresso Polar.

Delcio ainda comentou sobre a virtual production, explicando um pouco mais como funciona dentro da própria indústria:

Virtual Production, na indústria de cinema, é uma maneira de facilitar a interação dos diretores e equipe criativa com os efeitos visuais. Possibilitando, assim, controlar personagens e ambientes digitais de uma forma intuitiva e semelhante as produções tradicionais. A captura de movimento, que vem sendo usada em produções há muitos anos, foi potencializada em Avatar, quando James Cameron usou de câmeras virtuais para abrir uma “janela” entre o mundo real e digital e está se renovando atualmente, ao se apropriar de tecnologias e metodologias tipicamente desenvolvidas para criação de games e conteúdos VR e AR.

Como foi possível perceber, é complexo entender toda essa discussão. Pela definição de Delcio e de outros artistas no meio de efeitos especiais, O Rei Leão não poderia ser considerado um live-action devido a uma falta real de parâmetros do uso de câmeras com atores em sua linguagem. Definitivamente, parece ser uma nova forma de observar a animação, todavia ainda não sendo o real – mesmo que muito próximo dele.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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