A sonoridade irresistível de Little Eletric Chicken Heart
A voz suave de Ana Frango Elétrico nos revela um novo álbum, lançado na última sexta (12), com misturas bossa-pop-rock. Com uma carga única e extremamente deliciosa a ser desvendado por seus arranjos cativantes, solos de guitarras únicos e um Q tropicalista. Em Little Eletric Chicken Heart, uma continuação de seu primeiro álbum – Mormaço Queima (2018) -, com apenas um ano de lançamento, continua sendo caótico, mas permite transitar entre gêneros, do caribenho ao jazz, sem se atropelar e atrapalhar os ritmos.
Despreocupada com a perfeição, Ana não se atenta em dar sentido aos versos desde que deixe rimas em suas melodias, perceptíveis em poemas, fragmentos de vozes e convenções a magia do inesperado. Na abertura das faixas, “Saudade” transpassa pelo samba dos anos 60 nos trazendo um pouco de Jorge Ben Jor e mudando para uma tonalidade única da artista. Músicas como “Tem Certeza?” e “Se No Cinema”, mais agitadas, trazem letras distorcidas porém atuais se formos a fundo e desembaraçar a não tão complicada simetria das canções.
Nessa segunda, extremamente divertida -“Ah se no cinema / Se sentisse a temperatura do amor / Do casal, da tela, do sexo dela, do cheio/ da cor“-, que nos traz um questionamento simples sobre os casais da modernidade, ao refinamento político dos versos, base para a sóbria “Torturadores” – “Pesquisando o nome e o endereço de torturadores / Só pra contar pros netos e porteiros / Que têm todo o direito de saber”.
Ana Fainguelernt (nome verdadeiro da artista), nos apresenta uma obra com mil opções sonoras simultaneamente bem articuladas, tendo cada um seu espaço sonoro. Dentro de momentos de reflexão, Little Eletric Chicken faz um convite ao imerso, da composição dos arranjos ás vozes, tudo se projeta de forma caótica e mágica. Movimento criativo que parte de inquietações e vivências da própria artista desde o último ano, e na qual é compreendida pelos ouvintes, mas que se completa pela interferência direta de instrumentistas — como Guilherme Lírio (guitarra), Marcelo Callado (bateria), Vovô Bebê (baixo), Antônio Neves (trombone), Eduardo Santana (tropmpete) e Marcelo Cebukin (saxofone). Canções trabalhadas em um misto de fuga e fina continuação do material entregue em Mormaço Queima.