The Marvelous Mrs Maisel retorna para um elétrico segundo ano

É seguro dizer que Amy Sherman-Palladino, por muito tempo, não recebeu a atenção que merecia por seu trabalho. Gilmore Girls, um dos seriados mais populares do início dos anos 2000, não era só um sucesso de público e audiência, conquistando também a crítica graças ao humor afiado contido nos diálogos rápidos que os Palladino (Amy e seu marido Daniel) entregavam aos atores. Ainda assim, o seriado só foi indicado em categorias de atuação e maquiagem, deixando os excepcionais trabalhos de roteiro e direção a ver navios. Em 2018, no entanto, a vingança foi feita. A nova criação da escritora, The Marvelous Mrs Maisel, uma comédia de época sobre uma socialite que resolve virar comediante de stand-up após ser abandonada pelo marido, agarrou nada menos do que oito Emmys em 2018, além de 2 vitórias no Globo de Ouro.

Após um primeiro ano de imenso sucesso, a comédia retorna para a segunda temporada, com caminhos em curso para os protagonistas, novos personagens e novas dinâmicas. O seriado começa com Miriam Maisel (em uma interpretação precisa e inspirada de Rachel Brosnahan) indo a Paris com seu pai, Abe (o sempre brilhante Tony Shalhoub), buscar sua mãe, que está determinada a começar uma nova vida na França. Aqui, novamente o roteiro aborda o equilíbrio entre atender os costumes femininos da época (ser uma boa esposa, estar atenta às normas de comportamento) e ainda assim manter sua identidade própria viva independente disso. Conhecer mais a mãe de Midge, interpretada de maneira contida e assim grandiosa por Marin Hinkle, é uma excelente maneira de começar a temporada, aprofundando não só o que conhecemos da protagonista, mas também de sua família e sua herança. Ambos os parentes de Miriam possuem seu tempo de tela e destaque, agregando à trama com diálogos e interpretações pontuais.

Enquanto tenta reorganizar sua estrutura familiar após a separação do marido, Midge conta com a ajude de sua incomum empresária Susie (Alex Borstein) para alavancar sua carreira como comediante. No entanto, considerando que ambas as mulheres são inexperientes no negócio, a dupla vive diversas desventuras por pequenos clubes da cidade, além de ainda sofrerem com a perseguição da famosa comediante Sophie Lennon (Jane Lynch), que não gostou nada de ter sido criticada por Midge no ano anterior. Além disso, também entra no cena o médico Benjamin (Zachary Levi), que se envolve com Midge e fica encantado pelos charmes e esquisitices da moça.

Para quem conhece o trabalho dos Palladino em Gilmore Girls, Mrs Maisel se mostra como uma prima mais velha e muito, mas muito, mais sofisticada. Literalmente. Um dos maiores méritos da produção é o esmero com qual a parte técnica é entregue. Figurinos fiéis à época, que chamam atenção pela maneira como se adequam ao ambiente, assim como o cenário, uma réplica impecável da arquitetura urbana da Nova York dos anos 1950. A fotografia, que conta a todo momento com cores vibrantes, pode parecer plástica em alguns momentos, mas é exatamente nela que o esmero da produção se faz evidente. É realmente algo de saltitar os olhos.

Além disso, a direção continua mais afiada do que nunca. Fã de longos planos-sequência, os Palladino não pena dos atores, colocando-os para declarar longos e emocionais textos por três, quatro minutos a fio, sem cortes. Isso já faz parte da identidade da criadora, criando no espectador um senso de interatividade muito grande: você acompanha os personagens enquanto eles caminham por corredores e discutem com seus pais e fica atrás deles enquanto vê o outro colocar pra fora suas mágoas mais profundas. Outra questão bastante presente no texto é como ele brinca o tempo todo com elementos que já foram trazidos antes na tela, apenas para apresentarem outra dimensão e contexto em cenas-chave. Isso pode partir de características dos personagens, memórias e situações que nos são apresentadas, ou até mesmo por meio de músicas.

Aliás, é importante destacar como a música é um terceiro personagem em Mrs Maisel. A trilha é recheada de artistas da época, como Barbra Streisand, Connie Francis, Frank Sinatra e outros nomes que estavam em destaque durante o final dos anos 50 e início dos anos 1960. Inclusive, ao longo da temporada, há algumas cenas que parecem saídas de um grande musical, compostas apenas por atores, cores e música, onde as letras expressam claramente o sentimento que a cena busca trazer em quem assista. As referências histórias estão sempre inseridas, inclusive com a participação ativa na história de Lenny Bruce, um dos comediantes mais famosos da época. A interpretação de Luke Kirby é engraçada, carismática e cheia de nuances. Bruce, em suas breves aparições, é um dos personagens mais interessantes do seriado (embora não sejam poucos) e um maior tempo de tela para o personagem seria muito bem vindo em temporadas futuras.

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The Marvelous Mrs Maisel entrega novamente um seriado acima da média, com humor afiado, excelente direção e personagens cheio de carisma. Embora menos impactante que seu ano de estreia, a segunda temporada não decepciona e mostra novamente que os Palladino são uma das duplas mais talentosas e eficientes da comédia atual.

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