Venom é um esquisito início para o novo universo da Sony

É complicado começar a analisar Venom sob qualquer tipo de ponto de vista.

Existem diversos lados para se observar, alguns mais claros do que outros. No entanto, no final das contas isso acaba se tornando uma definição individual. Esses quesitos desembocam em uma clara história de origem, na qual somos apresentados ao jornalista Eddie Brock (Tom Hardy) que possui um grande desentendimento com o criador da Fundação Vida, Carlton Drake (Riz Ahmed). Isso acaba descarrilhando sua vida pessoal e profissional, fato que acaba influenciando, tempos depois, em um retorno à investigação do empresário, acarretando na conexão entre o jornalista e o famoso simbionte dos quadrinhos.

O diretor Ruben Fleischer (conhecido pelo seu trabalho em Zumbilândia) parece perdido em um roteiro com diversas ideias e gêneros passíveis de serem explorados. Se em alguns momentos específicos há um paralelo pungente com o horror mais corporal, como na cena dos experimentos com o primeiro cobaia humano, em outros existe uma tentativa de gerar um conflito dramático nas costas do antagonista feito por Ahmed. O cineasta parece também não saber se utilizar bem dos momentos de ação, quando se poderia explorar mais um terror psicológico e até mesmo o gore (como faria bem ser para maiores de 18 anos). Apenas uma sequência aborda as consequências de como é ter um alienígena dentro de seu corpo, criando uma expectativa para entender como Eddie irá reagir aos eventos que o cercam.

Com cortes rápidos e uma câmera em closes frequentes na cara do personagem principal, a provocação de agonia poderia ser um intrigante ponto de partida. Todavia, se é esquecido disso, para focar na espetaculização da ação do monstro nesses momentos de ação. Poderia ter seguido um caminho mais próximo a Upgrade (que falamos aqui) e menos genérico do gênero.

Aliás, Fleischer possui uma desorientação tão grande que o tom cômico involuntário e voluntário do longa funcionam extremamente bem, causando um desconforto que beira a vergonha alheia e o riso interessado com pitadas de humor da excentricidade das situações. Tom Hardy é o principal responsável por esse lado engraçado do filme, devido às suas conversas frequentes internas com o simbionte Venom. As situações mais funcionais nesse quesito se encontram em dois momentos chaves: nos conselhos amorosos do ser com Brock perante a sua conturbada relação com Anne (Michelle Williams) e nas situações de galhofice plena, perpassadas, por exemplo, no momento em que ele grita com seu vizinho.

Existe um lado brega intrínseco ao roteiro, quase saído das adaptações de heróis nos anos 90. Além de possuir esse tom fluído citado anteriormente, a caracterização de diversos personagens na trama passa por apenas pequenos traços de personalidade. E isso vai do ímpeto jornalistico do protagonista – que é bem fluído, diga-se de passagem – até a ingenuidade da Dra. Dora (Jenny Slate). O grande problema desse fator é a narrativa precisar ser passada através de diálogos extremamente expositivos e até banais em certo ponto. É como se ninguém parecesse entender o caminho que querem realmente ir, o que gera realmente falta de motivações para qualquer lado. Além do mais, a divisão de atos parece extremamente perdida na escrita, que se preocupa em apresentar o problema rápido demais e finalizar o mesmo em uma velocidade homérica. Como a cena inicial e sua decorrência presente em toda a trama, mas apenas para tentar dramatizar uma futura situação e o clímax, que é criado sem o conflito em si estar claramente presente e resolvido rapidamente.

Tematicamente, a película mostra também não entender para onde caminhar. Se em alguns momentos acontece um debate, mesmo que bem superficial, sobre a exploração da natureza pelo homem, outros há uma tentativa de discussão sobre o problema de guerras no planeta dos simbiontes, igualmente raso.

Para acompanhar a grande confusão demonstrada em tela, Ludwig Göransson (Pantera Negra) até tenta imergir uma trilha sonora mais urbana, focada em elementos muitas vezes metálicos e elétricos, o que é funcional dentro da proposta apresentada. Entretanto, quando ele passa para um quesito mais clássico, rivaliza com a breguice inata da história, tornando-se apenas pequenos toques e sem realmente dialogar com o acontecido.

Apesar dos mais diversos pesares, Venom é divertido até quando nem se propõe a isso. Possui um ritmo ágil, sobreposto a um desenvolvimento da narrativa praticamente inexistente. Se essa foi a ideia do pontapé inicial da Sony para com seu universo cinematográfico de vilões, pode funcionar se existir uma aposta real em uma volta ao passado. Até porque esse filme parece realmente deslocado no tempo, sem entender o que aconteceu com o cinema baseado em quadrinhos desde o início dos anos 2000. Se esse longa tivesse sido feito há mais de 20 anos, talvez desse realmente dado mais certo.

2.0
  • Venom
2

Resumo

É a famosa diversão sem sentido.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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