Crítica – Deerskin: A Jaqueta de Couro de Cervo
Georges (Jean Dujardin) é um homem obcecado. Após abandonar sua esposa, ele saca boa parte do dinheiro que tem em conta em busca de comprar uma jaqueta especial, relembrando um clássico do estilo faroeste. Ao adqurí-la, sob o custo de 7.300 euros, ele fica totalmente admirado, ganhando ainda uma câmera de presente de seu vendedor. Porém, a obsessão começa a ganhar contornos de uma certa insanidade quando Georges inicia suas conversas com a jaqueta e ela estabelece, em conjunto dele, um plano único: ser a única jaqueta no mundo. Como atingir esse objetivo? Bom, fazendo um filme.
Você pode agora estar se perguntando se realmente leu tudo escrito anteriormente. E, bom, é realmente sobre isso que Deerskin: A Jaqueta de Couro de Cervo trata, nessas relações bastante malucas do protagonista. A sua relação especial e totalmente iconográfica com o faroeste (ele diz o tempo inteiro que é o estilo “matador”), vai ganhando contornos ainda maiores quando ele compra luvas, botas e ainda ganha uma calça e pega um chapéu. Torna-se um ser nesse estilo mais clássico possível, sendo algo que almeja desde o prinpício. E, não, não pense que estou falando uma obra na qual retrata isso de uma forma totalmente séria. Isso aí, muito pelo contrário.
O diretor e roteirista Quentin Dupieux usa e abusa de um comédia de absurdos, algo típico de um cinema dos anos 70 e 80, e assim como em seus filmes anteriores. Entretanto, ao usar essa base, o cineasta traz para uma relação satírica do mundo contemporâneo, especialmente a relação material capitalista, retratada com força em Rubber, de 2010. Entretanto, toda sua encenação não busca uma complicação mais dramática ou até de gênero para isso. Ele se utiliza dessas ligações modernas para fazer sua narrativa sempre parecer totalmente absurda. A cada novo segmento, um novo absurdo é colocado em pauta. Só a trama aqui – da mesma forma em Rubber – já é um absurdo por si só.
Mais do que apenas apresentar esses elementos, é interessante a forma que o cineasta transborda isso para um desenvolvimento no universo. Um exemplo claro disso é a personagem Denise (Adèle Haenel). Ela, aparecendo inicialmente como uma atendente em um bar, tranforma-se na editora desse “filme” proposto por Georges. Nessa película cinematográfica, a busca é apenas uma: pegar as jaquetas das diversas pessoas. Denise, aliás, até traz um momento de uma ironia própria do longa ao interpretar tudo que está sendo filmado pelo personagem principal. Segundo ela, aquilo representaria a “casca humana na atualidade do mundo”. Novamente, um absurdo colocado em tela na qual acaba corroborando para toda essa mítica.
Toda a história toma aos poucos uma autoconscienciência bastante empolgante. A produção, em que parece buscar um exagero a todo parte em seus primeiros 40 minutos, toma um certo rumo afim desse exagero, não usando apenas ele como subterfúgio único. Cada pequena cena constrói algo mais impressionante e quase catártico, especialmente pelo nível das piadas chegar a algo até deveras extravagante. Nesse sentido, a metalinguagem toma forta de retratar quase um “processo” cinematográfica, de uma certa obsessão por aquilo tudo – relacionado ao filme feito.
Quentin Dupieux realiza em Deerskin: A Jaqueta de Couro de Cervo um filme que parece não se propor a nada, porém consegue economizar bem toda sua encenação a apenas um fim: a loucura. Sua insanidade narrativa funciona afim de catapultar os pequenos elementos apresentados anteriormente. A jaqueta, que ganhou vida própria com Georges, pode ser a mesma coisa futuramente sob os ombros de alguma outra pessoa. Toda essa estética do ilógico fecha em uma perfeição ímpar, trazendo algo do nada para tela. Bom, se Monty Phyton poderia querer algum representante contemporâneo – dada as devidas comparações -, o cineasta parece saber reconhecer bem o humor do grupo.