Crítica – Suor
O mundo digital e a problemática sobre as ‘web celebrities’ é algo que é trabalhado com exaustão midiaticamente. Seja pelos meios tradicionais de jornalismo, seja por obras específicas, acabaram quase se corroendo em algo comum, até bastante simplista. Logo na primeira cena do filme polonês Suor, não é possível ver uma personagem em voga por esse lados das redes. Em sua concentração antes de entrar no palco para uma aula de ginástica, Sylwia (Magdalena Koleśnik) parece buscar passar o melhor de si naquela instância. Entretanto, a câmera colada em seu rosto, já nos torna voyeur de uma situação absurdamente íntima dessa persona, que parece cheia de falhas. Quando entra em um espaço público, ela se transforma em celebridade.
Logo em sua guinada inicial, o longa se importa já bastante em trazer o debate entre público e privado apenas através da sua estética. É como se fossemos parte daquela situação, mas ao mesmo tempo tão distantes dos personagens. A influência digital da protagonista, também se passa pela própria ideia de ser uma professora de ginástica e “comandar” os alunos – do mesmo jeito que influencers fazem publicidade em redes sociais, por exemplo. É quase como se, em pouquíssimo tempo, estivéssemos vendo um estudo de personagem, tentando compreender porque essa figura é tão curiosa e complexa e os motivos das pessoas verdadeiramente gostarem.
Quando sai desse lado de estrela, entretanto, vemos Sylwia sempre com semblante para baixo, como se estivesse triste em seu lado íntimo. Essa “brincadeira do palhaço”, que traz felicidade, porém está sempre mal por dentro, vira uma analogia até boba dentro da trama, que visava colocar para fora um entendimento desse ser. Essas curiosidades e a disputa dos espaços na vida de pessoas particulares em si, é um debate que fica nesse caminho bastante raso para a narrativa desenvolver. O mais interessante é para a direção de Magnus von Horn um caráter mais agressivo, de um certo comportamento “bizarro” do mundo das mídias.
Dessa forma, toda a segunda parte de Suor busca menos um caminho de uma afeição, especialmente quando ela começa a ser perseguida por um homem, que sempre para com o carro na frente de sua casa. Nesse instante, ela se vê fragilizada no seu caráter público, a qual deveria ser fechado para apenas um desenvolvimento de plena felicidade. Desse jeito, parecemos estar o tempo todo vendo um episódio de Black Mirror ou Além da Imaginação, porém sem tanto o caminho tecnológico, e mais a relação dramática que isso se impõe. Por isso, elementos visuais são retirados de cena, colocando uma questãos mais cru do universo. Isso revebera até no lado de conotações sexuais e também violentas.
Apesar disso, é claro que o maior interesse para o filme é entender de que ponto dessa personagem vive nesse mundo. Ela parece nunca entender muito bem a forma de lidar com o fora dele, se vendo de forma esquisita com uma fã, por exemplo, ou tendo um tratamento passivo-agressivo por parte da família. A protagonista internaliza isso tudo, em uma performance que rememora até um trabalho feito por cineastas contemporâneos, como o caso de David Fincher. Na necessidade de explodir, ela parece se retrair ainda mais nesse cosmos.
E é assim que chegamos ao grande ápice climático, em uma espécie de fim dos elementos trágicos apresentandos ao longo da narrativa. Suor usa e abusa da discussão entre público e privado para entender o encontro desses em seus últimos momentos, explorando um caráter de compaixão de uma personagem que parece nem se entender. Se, ao longo de boa parte dos minutos, vemos Sylwia de muito perto, como se fossemos um de seus seguidores – até nos momentos mais íntimos – Magnus von Horn decide por afastas a cãmera conforme o tempo passa. Cada vez mais que nos distanciamos de sua persona ou máscara (assim como o filme de Ingmar Bergman) que está presente para a sociedade, nos aproximamos de sua vida comum fora da imagem.