Crítica – Mortal Kombat
O ano de 2021 começou com intenso destaque para as adaptações de jogos. Em fevereiro, tivemos a estreia de Monster Hunter, que ganhou certo destaque e boas críticas. Apresentava uma exploração visual e um uso constante dos elementos estéticos do game, como os monstros, por exemplo, e as suas variações. Agora, vemos o lançamento de Mortal Kombat, que parece ser quase totalmente o inverso. Se no filme dirigido por Paul W.S. Anderson, há uma ideia a ser desenvolvida sobre os personagens e como a ação será trabalhada (em algo que até brinca com a visão de um jogo por si só), esse daqui, comandado por Simon McQuoid, parece bem mais interessado em ser apenas mais um qualquer.
Porém, nem tudo começa mal. O filme se inicia remetendo ao passado de Liu Kang (Ludi Lin), que acaba por ser deixado após os pais serem atacados por um homem misterioso que usa o gelo como arma. A cena remete a uma ideia bem clássica de produção de samurais, com um uso frequente de planos que não demonstram exatamente o que está acontecendo, além do constante movimento do fundo de plano – coisas que Akira Kurosawa sempre gostou de usar. Contudo, essa construção cênica inicial é deixada totalmente de lado após isso.
Desse jeito, tomamos contato com o presente dessa história, acompanhando novamente o personagem principal. Ele agora é um lutador fracassado, que não consegue ganhar nunca. Esse elemento se torna relevante já que a dramaticidade consolidada pela direção vira especialmente em uma busca por se tornar melhor por parte de Kang. Essa necessidade de provação até poderia ser um argumento curioso trabalhado, caso a obra tivesse um verdadeiro interesse em explorar o que o personagem ganharia com isso, por exemplo. No entanto, esse fato se torna apenas passageiro, uma camada para se transformar em uma referência aos fãs do game da maneira como ele chegará nos finalmente.
Veja nossa cobertura do painel da CCXP de Monster Hunter aqui
Da mesma forma, tudo no longa parece ser visando um olhar desse público com a visão do game. Mortal Kombat não sabe bem caminhar com as próprias pernas, jogando diversas correlações (a cena do “get over, here” é talvez mais clara nesse sentido), mas que não vão muito para lugar nenhum. Desse jeito, é decepecionante a forma que a produção desvaloriza a sua própria construção estética. Se poderia ser assumido um papel primário sobre essa orientalidade da trama, isso desaparece em pouco tempo já que se faz necessária uma ação sem muitas resoluções. É como se o filme já estivesse fazendo o terreno para a continuação, mesmo sem nem ter passado de sua metade.
E isso não está apenas na maneira que as sequências de ação estão postas, mas também em como há o uso dos persoangens e desse mundo. É claro como existe uma busca por Simon McQuoid em transformar essa frontalidade ns lutas em algo que se posicione no cinema de ação americano contemporâneo. Desse jeito, a fisicalidade se torna relevante, porém totalmente deslocada dentro dos acontecimentos. Assim sendo, toda a ideia luta, por exemplo, que faz parte da ideia de Mortal Kombat, é também posta de maneira a ser mais um easter egg do que realmente uma necessidade narrativa – e o maior problema é que ela se torna relevante para a condução do longa.
Tudo isso transforma Mortal Kombat em vazio nas suas diversas ideias que nunca são postas em prática. Falta para o filme uma verdadeira inspiração de qual caminho seguir, de qual trajetória é melhor de ser explorada. No entanto, a produção é mais interessante em trabalhar todos os elementos possíveis dentro de menos de 2 horas e ainda querendo abrir espaço para continuações. Esse universo, fragmentado também com diálogos expositivos sobre coisas não mostradas, fica inteiramente abandonado, como se não fizesse muito sentido de existir. No fim das contas, para fãs e não fãs, a decepção toma conta de tudo que poderia criar de novo aqui. Falta para o cinema de ação mais Monsters Hunters e menos Mortais Kombat.