Crítica – Bem-Vindos à Vizinhança (Minissérie)

Histórias de invasão a casas são narrativas até bem comuns dentro de uma cronologia da arte americana. E isso se deve, principalmente, por ser um tema comum, recorrente, em um notíciario local. O medo do desconhecido entrar em sua casa – algo que também reverbera fortemente dentro de um cinema de terror, como em Halloween, por exemplo – acaba sendo lembrado como parte da construção de um medo para as famílias. Dessa forma, Bem-Vindos à Vizinhança tenta trabalhar isso através de uma primeira cena que irá trazer um grande esteriótipo. Uma família feliz, formada pelo marido, pela esposa e dois filhos, um homem e uma mulher.

Os quatro, querendo se mudar, encontram uma bela casa, gigantesca, em um área totalmente urbana, com uma vizinhança aparentemente pacata. Eles decidem realmente viver ali e compram o disputado ambiente. O problema é que viver ali não será tão fácil. Isso porque, logo nas primeiras semanas após a mudança, começam a ter confrontos recorrentes com moradores próximos, além de receber cartas com ameaças e intimidações, de alguma pessoa desconhecida. Além disso, coisas estranhas acontecem no local, como um rato encontrado morto a facadas. O caso começa a gerar temor no casal Dean (Bobby Cannavale) e Nora (Naomi Watts), que buscam encontrar uma solução para isso tudo.

A minissérie criada por Ian BrennanRyan Murphy para a Netflix se baseia em uma história real. Apesar disso, os dois autores, roteiristas e, às vezes, até diretores dos sete episódios, buscam ficcionalizar toda a trama. Por isso, é interessante como o primeiro episódio constrói um grande ambiente dissonante, confuso, em uma casa no qual é quase impossível entender aonde se está. A direção de Murphy dessas primeiras cenas já denotam um cenário caótico, em que o público nunca entenderá realmente o que está acontecendo. Tudo isso gera uma tensão crescente, que irá complexificar no decorrer dos capítulos.

Assim, o seriado claramente se divide em duas partes: em uma primeira, focada na paranóia familiar com cada nova carta e cada novo enfrentamento com os vizinhos; e uma segunda, na qual a investigação ganha mais espaço. Esse primeiro momento (que abrange pouco mais de três episódios) é aquele em que Bem-Vindos à Vizinhança se sai melhor. O público é colocado como alguém perdido dentro desse universo, e que, ao tentar descobrir os culpados, parece ainda mais confuso que os personagens. É como se a própria narrativa brincasse com as expectativas e a tentativa de responder o whodunit.

O onipresente clima de suspense é o que torna os acontecimentos tão curiosos para quem assiste os episódios. Ao se concentrar também em diversas histórias paralelas – como das vizinhas Pearl (Mia Farrow), e da corretora Karen (Jennifer Coolidge) -, o mundo acaba sendo ainda mais múltiplo e as possibilidades aumentam ainda mais da descoberta. Talvez a trama real gere uma certa frustração para alguns que não sabem nada dessa história, contudo a trajetória e o foco maior na grande confusão que é esse local, e principalmente a casa, é o que tornam ela tão engajante.

Longe de ser uma obra-prima, Bem-Vindos à Vizinhança é uma divertida trama que consegue misturar o drama de personagens paranóicos e perdidos, junto de uma narrativa de suspense. Ao tentar sempre brincar com o público, e com as respostas sobre quem seria o verdadeiro culpado, é como se a produção gostasse de colocar a audiência quase como cúmplice nesses acontecimentos. Assim, com a primeira cena, em que é gerado o clima de tensão por toda a parte, até o último momento, poucas certezas são colocadas a frente para quem assiste. Ian BrennanRyan Murphy fazem um joguete de máscaras, no qual é quase impossível adivinhar o que vem pela frente.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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