Crítica – Your Honor (Minissérie)

Bryan Cranston não é um estranho no papel de pai de família disposto a tudo para proteger sua família a salvo, já que é com essa premissa que seu personagem mais famoso, Walter White em Breaking Bad, começa sua jornada, até descobrir que a posição de traficante de drogas lhe dá o poder que ele tanto queria. É uma situação muito próxima do novo personagem interpretado por Cranston na minissérie Your Honor.

Aqui, o ator interpreta Michael Desiato, um respeitado juiz de Nova Orleans. Viúvo, sua única preocupação na vida é seu filho, Adam Desiato (Hunter Doohan). Após ter um ataque de asma enquanto dirige, Adam acidentalmente atropela Rocco Baxter (Benjamin Wadsworth). Apavorado após testemunhar a lenta morte de Rocco, Adam sai da cena sem prestar ajuda, mas revela o ocorrido a seu pai. Decidido a fazer a coisa certa, pai e filho se dirigem a delegacia, mas chegando lá descobrem que o pai da vítima é Jimmy Baxter (Michael Stuhlbarg), mafioso da região conhecido por sua crueldade. Ao perceber que seu filho jamais sairia vivo da situação, Michael decide ir contra seus princípios e usar de sua influência para proteger o filho a todo custo, afetando vidas muito além das duas famílias.

Your Honor possui um olhar muito afiado para os impactos das decisões de Michael, é uma série muito ciente dos problemas que afetam o sistema judiciário Americano, como o racismo. Um bloco narrativo muito importante da série é como uma família de afro americanos acaba sofrendo muito mais, tanto em nível institucional quanto pela “lei das ruas”. É um menino negro que é convocado para assumir a culpa de Adam, que é imensamente desumanizado durante seu julgamento, e é a família do mesmo que é atacada pelos Baxter, enquanto os Desiato desfrutam de um sem fim de conexões para protegê-los de grandes consequências.

A trama está no seu melhor ao focar mais nas periferias do acontecimento principal, ao se focar nas relações de poder e como o pessoal, profissional, legal e ilegal se misturam quando necessário. Não há muita inocência nos envolvidos na história, por mais graus de separação que tenham do evento principal.

Mas é curioso como o paralelismo entre Desiato e Baxter é pouco explorado, mesmo que muitíssimo evidente. Dois pais de família, agindo de lados opostos da lei, mas que agora se estão mais próximos do que imaginam na quebra das leis. Your Honor não quer complicar muito as coisas na representação dessa figura. Jimmy nunca é apresentado como muito mais do que um homem violento, e que usa dessa violência para retaliar todos que atinjam sua família, enquanto a série evita um olhar muito crítico para Michael, que é sempre um “homem bom” que se meteu num buraco que só aumenta. Somente no final de tudo que, brevemente, o alcance devastador de suas ações é jogado na sua cara.

O principal chamariz da série também é o seu maior problema, já que a atuação de Cranston nunca consegue ir além de um Walter White das primeiras temporadas de Breaking Bad, mas menos atrapalhado. Para os fãs da série, os trejeitos do personagem no seriado vão remeter imediatamente ao professor de química, e a similaridade das tramas também não colabora muito.

Your Honor é sólida, mas se sustenta muito mais pelos acontecimentos paralelos do que pelo seu núcleo dramático. Seus dez episódios são interessantes de acompanhar e a conclusão é apropriadamente devastadora, mas falta um pouco mais de brilho próprio.

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