C6 Fest no Rio: Dia 2

Por Lucas Farias e Cláudio Gabriel

O segundo dia de C6 Fest saiu do mundo da eletrônica e entrou de cabeça no jazz. Apostando nos novos nomes do gênero e nas suas diversas facetas (desde aquelas conexões com o rap, por exemplo, até o mais tradicional), o evento pareceu ter escolhido um line-up perfeito, de conexão deslumbrante entre si e, como não poderia deixar de ser, marcante para sempre. Definitivamente, quem esteve no Vivo Rio não irá esquecer jamais do que viu.

– DOMi & JD BECK

No mundo da música, é emocionante ver dois talentos se unindo para criar algo verdadeiramente emocionante. Esses são DOMi & JD BECK, uma dupla (ainda muito jovem) incrível, que lançou seu primeiro álbum de estúdio em 2022 e vem cativando o público desde então em turnê mundial. Assim como no trabalho de estúdio, ao vivo parece estarmos vendo uma apresentação de potencial inacreditável.

O magnetismo da dupla performando impressionou o público do começo ao fim, ambos demonstrando uma destreza que transcende a idade. Tanto DOMi – com seus dedos voando pelos teclados -, quanto JD Beck – com sua energia através da bateria e sua simpatia contagiante sempre interagindo com o público. Apesar disso, é também interessante perceber como o próprio olhar brincalhão e de grande inventividade está presente no ao vivo. Eles se autodepreciam com a própria voz, parecem quase tímidos em alguns instantes, sem saber o que falar (“bom, vamos para a próxima música, porque é isso que viemos fazer”). Pode soar irritante a alguns, porém transforma o show quase em um grande improviso.

É sempre incrível ver jovens apaixonados pelo que fazem criando um espetáculo de improvisação e diálogo musical, com uma sinergia incrível que mostra o quão poderosa é essa colaboração de expressão artística e me deixa realmente ansioso para o que ainda está por vir!

– Samara Joy

Há momentos em que uma estrela surge e simplesmente atordoa a todos com seu talento e sua presença de palco. Essa é Samara Joy, com uma voz poderosíssima, maturidade musical e uma habilidade impressionante para interpretar grandes clássicos do jazz. Não a toa, a cantora gosta de mostrar a devoção aos clássicos, fazendo sua performance de palco soar como se estivéssemos vendo um nome gigante da música se formando.

Acompanhada de uma banda incrível, composta por músicos experientes e virtuosos, a sinergia entre ela e os músicos flui de maneira harmoniosa, onde a improvisação e a expressão musical deram vida a uma experiência incrível.

Mais conhecida no Brasil depois de ter vencido a categoria de revelação no último Grammy – desbancando Anitta –, Joy pareceu não ter ligado tanto para os ataques, focando no público brasileiro que foi a ver. Desde o início, pareceu muito emocionada e impressionada com a relação da plateia. Completando com grandes brincadeiras vocais (a ideia do agudo e grave com uma facilidade imensa), levaram a plateia a sair completamente apaixonada de sua presença.

A nova-iorquina trouxe ainda para o repertório a canção “Chega de saudade”, de Tom Jobim, e “Flor de Lis”, grande sucesso do Djavan que fez o público cantar alto e revelou ainda ser uma das suas músicas favoritas. Além de cantar em português (por sinal, perfeito), conversou com o público e apresentou sua banda com palavras e frases estudadas.

O público dançou, cantou e chorou com o verdadeiro testemunho do poder do jazz de tocar a alma das pessoas. Se você tiver a oportunidade de vê-la ao vivo, não perca. Você será levado a uma jornada emocional incrível através da música.

– Jon Batiste

Se o dia parecia já tão marcante, um nome completava de forma quase perfeita esse line-up. Na realidade, de um jeito perfeito mesmo: Jon Batiste. Vencedor de Melhor Álbum do Ano no Grammy de 2022 por WE ARE, o artista chegava em solo nacional ainda gabaritado por ter feito a trilha da animação da Pixar, Soul. Contudo, é impossível deixar o cantor e compositor em uma caixinha depois da apoteose que ele provocou no Vivo Rio.

Batiste queria construir uma sonoridade brasileira para suas músicas. Desse jeito, um grupo de percussionistas nacionais bradava no fundo do palco gritos antes mesmo da estrela aparecer no palco. O clima foi fundamental para a entrada do músico e sua energia gigantesca.

A sequência de músicas parecia não delimitar algo específico, já que ele e sua banda iniciavam canções e faziam grandes experimentações no meio, brincando com diversos elementos no palco. Isso, por si só, já seria algo extremamente marcante. Entretanto, ganha ainda mais em peso e dimensão pelo fato de Jon Batiste estar completamente entregue, dançando, indo de um lado a outro, cantando alto e sem medo de parecer até meio exagerado. Literalmente, um acontecido vivido pelos presentes.

Obviamente que as coisas ganharam uma outra dimensão também na entrada de Lia de Itamaracá no palco. Juntos, os dois tocaram mais quatro canções de autoria da pernambucana, em um momento de intensa devoção por parte de Jon a cantora brasileira. É quase como se o artista buscasse completar a noite não homenageando a si mesmo, e sim a história da música nacional e de como ela pode chegar em qualquer lugar do mundo.

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *