Crítica – O Mestre da Fumaça

Era 2009 quando o filme Besouro, de João Daniel Tikhomiroff, entrava em cartaz nos cinemas brasileiros. O grande destaque para as cenas de ação e coreografias, gerou um grande impacto no público na época, e repercussões que entram até os dias atuais. Hora ou outra um vídeo de auma sequência de luta ainda aparece nas redes sociais, por exemplo. Entretanto, o fato de ser um filme mediano para ruim, além de ter sido deixado de lado pela audiência, pesou muito na memória que ele teve ao longo do tempo nos telespectadores. Passados quase 15 anos, chega aos cinemas O Mestre da Fumaça, que vem com uma proposta similar, de buscar brincar com o cinema de artes marciais, especialmente de Hong Kong. Contudo, talvez teria sido melhor refazer Besouro.

Talvez a questão que mais falte ao longa seja também sua razão de ser: originalidade. A direção de  e Andre Sigwalt transforma a obra em um grande pastiche, em um recorte de outras coisas que soam legais. É quase como os dois realizadores estivessem buscando mais o que propriamente os agrada assistir, do que realmente o que se transforma em interessante na tela. Você até pode se questionar “ok, mas e se isso for ao menos bem feito?”. O problema é que nem isso é, tornando, desse jeito, o filme como uma gigantesca imitação de algo.

O maior problema talvez seja esse, o fato de O Mestre da Fumaça tentar desesperadamente ecoar diversas coisas, buscar ser um milhão de outras ideias, e não realmente o que ele é. Isso tudo se apresenta desde a própria ideia, a forma de encenar todas as lutas (é impossível não notar a transformação do olhar da câmera, que quer soar como uma gravação antiga), até mesmo sua história. Essa, que fala da jornada de dois irmãos amaldiçoados pela máfia chinesa com uma vigança que perdura por gerações. Desse jeito, a forma de sobreviver e lutar contra o grupo é aprender a arte a luta da Fumaça.

Talvez a grande característica que ressalte o longa seja o fato dele abraçar o aspecto de ser um grande filme b nacional. Sem grandes pretensões em termos de efeitos, ou até mesmo realismo, a produção se admira na própria diversão ao tratar diversos momentos, ou até mesmo situações constrangedoras. Isso perpassa também seu lado cômico, transformando a narrativa, em algumas sequências, quase em um pulp ou até mesmo um filme stoner. A cena de Caine (Tiaraju Aronovich) falando sobre os feitos da máfia com uma mão decepada na mesa ilustra bem esses momentos. Poderíamos estar falando aqui do grande chamariz do filme. Entretanto, é justamente o fato de fazer isso de forma pincelada que o torna tão repetitivo e até mesmo cansativo.

Nem mesmo o nome do protagonista Gabriel (feito por Daniel Rocha) salva O Mestre da Fumaça de parecer tão esquecível. Em certo sentido, a direção de  e Andre Sigwalt se comporta quase como o protótipo de algo – talvez até mesmo uma outra ideia no mesmo segmento, usando elementos similares. O problema não é querer soar como uma referência, ou até mesmo inspirado, e sim inteiramente igual, sem identidade. Com o agravo de estarmos falando do cinema nacional, com a possibilidade de fazer algo verdadeiramente brasileiro. A expectativa fica para, quem sabe, em um futuro próximo, os diretores tenham outra coisa mais concretizável.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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