Crítica – Disco Boy: Choque Entre Mundos
Assistindo Disco Boy: Choque Entre Mundos, o telespectador pode ter uma sensação meio estranha e confusão sobre o que estaria realmente sendo mostrado em tela. De um lado, a história de um refugiado está o bielorusso Aleksei (Franz Rogowski), que vai tentar ingressar na França ilegalmente e acaba sendo colocado na Legião Estrangeira para, se fizer bem seu trabalho nessa tropa, tendo a chance de ganhar um visto oficial de imigrante. Do outro está a luta de um grupo nigeriano que luta contra o governo de seu país e contra as multinacionais de petróleo que ameaçam a vida deles. Nesse ambiente, acompanhamos Jomo (Morr Ndiaye), um desses soldados.
Inspirado livremente no clássico livro Coração das Trevas, de Joseph Conrad, o filme se concentra em ser um grande duelo de visões de mundo. Esses dois personagens até tem ideias próprias e ideologias pelo qual acreditam, contudo precisam deixar tudo isso de lado pela defesa de momento, que significa a simples sobrevivência no mundo. Ao alternar em diversos momentos esses dois pontos de vista, o diretor e um dos roteiristas Giacomo Abbruzzese parece sofrer o mesmo que o público que assiste sua obra: não sabe bem para qual caminho andar.
É preciso até ser justo em certo caminho, no fato do cineasta explorar uma brutalidade fria nos dois conflitos. A forma como eles se relacionam não é mostrada diretamente ao público, mas através de um equipamento de visão noturna, quase como um jeito de criticar diretamente como essa realidade não aparece de forma clara. Todavia, assim como essa, todas as outras criticas que aparecem dentro da narrativa soam sempre vazias, e feitas mais para chamar atenção de algo, do que realmente com um sentido dramático ou da própria encenação. Em alguns instantes, fica tão na cara que o longa quer falar daquilo, que a sutileza para tratar toda a apresentação dos personagens se perde por completo.
Disco Boy: Choque Entre Mundos até tenta ser uma forma de observação sobre os corpos masculinos em meio a guerra. Mesmo que, mais uma vez, de um jeito extremamente simplista. Ao mostrar o treinamento de batalha ou até mesmo Aleksei em uma balada, dando destaque para os movimentos corporais, Abbruzzese quase quer soar como Bom Trabalho, de Claire Denis, que tem como seu enfoque esse aspecto, para abordar a masculinidade. Entretanto, o diretor até tenta traçar um comentário sobre o assunto, mas gerando um intenso contraste no tratamento dos corpos branco e negros – enquanto um é filmado sempre exoticamente, de um jeito “estranho”, o outro aparece mais naturalizado.
Na primeira sequência em que vemos o exército nigeriano, o filme demonstra uma jornalista os entrevistando e falando com eles sobre como tem tratado o conflito. Do outro lado, os homens, todos armados, começam a gritar e atirar para o alto, enquanto ela manda continuar a filmagem. Em certo sentido, é parte desse olhar que o cineasta quer explorar e observar em Disco Boy: Choque Entre Mundos, ao fazer justamente uma crítica. O problema é como essas questões parecem reforçar apenas mais uma visão esteriotipada de tudo.