O Peso do Passado é um fraco suspense sobre tempo e feridas abertas

É impossível dizer que existem preceitos básicos para uma trama de algum gênero dentro cinema (ou até propriamente em qualquer forma de arte). Qualquer sentido para uma história é dado no seu conjunto de situações para formar algo ainda maior. O Peso do Passado possui uma conexão muito intrínseca com um suspense, ao mesmo tempo que parece totalmente distante desse sentido dado a obra. E isso é muito mais frágil e complicado do aparece.

No filme, a detetive policial Erin Bell (Nicole Kidman) busca compreender um pouco da relação do seu passado com os acontecimentos presentes em sua vida. Ela se vê diante de uma investigação remontando uma operação realizada pela mesma antigamente, na qual se fez de uma assaltante disfarçada.

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Karyn Kusama possui uma direção muito inteligente em buscar minúcias da personagem principal. No mesmo instante que faz transições ao passando, na qual entendemos mais sobre seu relacionamento com determinados bandidos, o presente parece ser sempre minado por essas mesmas diversas situações. Sua câmera, extremamente estática, aposta em retratar de uma forma quase documental toda essa vida de Bell, porém de uma forma muito fragmentada. As transições temporais exploram bem um sentido para tudo realizado que a policial faz, mas sempre renegando o resto dos personagens presentes, como na sequência em que a personagem relembra sua relação com Petra (Tatiana Maslany), como se não tivesse passado por modificação alguma.

A película gera um certo suspense no entendimento ao redor do porquê de todas essas figuras do passado parecem ter ressentimento com Erin, algo até explorado de uma maneira narrativamente intrigante, sem buscar flashbacks óbvios ou uma exposição mais clara. Entretanto, o entregado no fim gera diversas incongruências com os mesmos futuramente, exemplificado de forma clara na cena com um homem em coma, onde não há um sentido para esse acontecimento e nem para a protagonista realizar determinados atos. A narrativa de Kusama é sempre desentrelaçada, ou seja, mesmo com excelentes preceitos e ideias parece nunca saber de que maneira colocadas para gerar um certo sentido.

A montagem de Plummy Tucker até transita bem em cortes extremamente secos, porém contínuos. Nunca ocorre um momento de pausa para uma respiração da audiência, mesmo em momentos mais reveladores do roteiro. Tucker ainda consegue gerar uma tensão nos cortes em si, por serem feitos sempre a margens de interpretação do público, menos com a desnecessária exposição no plot-twist da cena final – algo tratado como óbvio até pela própria direção, ao trazer os diversos elementos do primeiro plano. Essa subestimação do espectador acaba fazendo tudo o que foi apresentado anteriormente perder seu efeito, como se fosse mais importante a resolução em si do que ela apresentar um sentido coerente de construção até aquele ponto da película.

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Diferente de seu trabalho anterior, a cineasta traz Julie Kirkwood para a fotografia, sem alcançar um resultado similar. Kirkwood parece não saber muito bem pensar os planos para um sentido mais dramático e tensional, abordando tudo de uma forma extremamente simplista. Na sequência inicial, por exemplo, é criado um pretexto de apreensão entre os policiais e os planos nunca se utilizam disso para aumentar sentidos propostos. Parece um trabalho extremamente simplista, sem muita inspiração para uma abordagem de uma história que busca a expectativa a todo momento.

Apesar disso, o feito por Nicole Kidman é deveras impressionante. Muito mais do que trabalho de maquiagem, seus olhares e expressões transmitem uma angústia contagiante dentro da personagem, algo demonstrado ainda melhor por alguns tiques de olho e das mãos. Apesar de ter uma personagem um tanto quanto vazia, as camadas de sua personalidade são construídas como determinadas feridas sofridas, atingindo o ápice na cena climática do assalto no passado. Toda a sua dor na relação com Chris (Sebastian Stan) conseguem ser passada apenas em uma abertura de olhos, fato perfeito para essa maior característica do presente dela.

O Peso do Passado é um filme muito mais poderoso pela sua protagonista do que em um sentido mais amplo. Mesmo sem saber muito bem pra onde quer levar sua narrativa, Kusama busca retirar o máximo de uma produção sem o peso necessário, sem o sentido que desejapassar. Tudo parece extremamente frio e, não pela própria trama, mas sim pelo desenvolvimento extremamente insosso dos caminhos a ser seguidos.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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