Amadurecimento, juventude e Skate Kitchen
É fato que existe no cinema atual uma nova onda de filmes do subgênero coming of age, que retrata a vida como jovem e o amadurecimento perante ao mundo adulto. Dentre alguns dos representantes mais recentes, se destacam a dupla que se destacou no Oscar -, Lady Bird e Me Chame Pelo Seu Nome. Apesar dessa tendência (que nem pode ser chamada de um movimento propriamente dito), ainda há uma busca pela realização de produções exploradoras desse conteúdo, mesmo sendo em um sentido menos comercial. É o caso de Skate Kitchen.
O longa explora a vida de Camille (Rachelle Vinberg), uma adolescente tímida e totalmente apaixonada por skates. Depois de visitar uma cidade próxima e ter encontrado com algumas meninas que ela já conhecia através da internet, a menina encontra seu espaço e seu grupo social, entrando em conflito direto com os desejos de sua mãe.
Existe um senso de pertencimento de grupo fortíssimo para a identidade visual e narrativa da obra. Aqui é explorado muito mais a relação da individualidade da protagonista em sua relação com as outras meninas, aonde a mesma deve enfrentar sempre o perigo de errar, ou seja, algo intrínseco a sua juventude. Isso se expressa na constante utilização do vermelho ao Camille entrar em contato com alguma situação em que pode gerar alguma problemática futura. A fotografia de Shabier Kirchner consegue sempre perpassar esses sentimentos, contrastando sempre ao roteiro pouco expositivo.
O olhar da diretora Crystal Moselle é urbano, valorizando tudo relacionando a esse ambiente, esse espaço. Essas questões são evidenciadas desde grafites na parede até em montagens ritmando canções, como a sequência da música “Move Your Feet”, de Junior Senior, para explorar toda a cidade. Acima disso tudo, entretanto, a cineasta sabe muito bem a força do ato de praticar skate é um dos pontos mais primordiais da trama. Dessa maneira, diversas situações acabam sendo pontuadas em longas extensões das meninas andando do objeto, realizando manobras, discussões sobre o mesmo, e mais. É como se fosse assistir à um especial do esporte em algum canal dentro da mesma temática. Ademas, serve também para falar sobre como se liberar dentro do mundo, tornando-se um ser com responsabilidades. Esses momentos funcionam bem, mas se torna muito mais um recorte momentâneo repetitivo do que algo necessário para a história.
A temática do amadurecimento aparece em cenas específicas, explicitando ocorrências necessárias dentro do período da juventude, como o sexo, a liberdade e as amizades. Os diversos pontuamentos sobre esses assuntos realizados, no final das contas, acabam sendo acontecimentos em si mesmo, não realmente acrescentado nada. Isso gera um andamento narrativo cada vez mais enfadonho a partir do final do primeiro ato (por volta de 25 minutos), arrastando bastante a montagem e tornando o longa parecendo ter 3 horas de duração. Apesar de ser uma exposição sobre o cotidiano, se torna menos funcional e mais esquecível.
Para além disso, esses eventos têm um sentido na frase dita na duração: “para acertar, precisamos errar”. É, obviamente, uma antecipação de futuros acontecimentos, porém inchados em determinado instante. Se existe alguma cena específica mais bem desenvolvida nisso é no momento da faixa “Young, Dumb and Broke”, de Khalid. Muito mais do que contar com a letra da música, essa fatia mostra, do mesmo modo, do amadurecimento ser errar sempre, como o diálogo apontou antes.
Moselle sabe muito bem como controlar o andamento dos acontecimentos na vida de sua personagem principal através da câmera. Se em determinados momentos é preferível uma câmera mais subjetiva para acompanhar suas ações no dia, em outras se utilizam planos extremamente fechados, fazendo toda a audiência sentir na pele os reflexos dos atos para com a mesma.
Skate Kitchen possui virtudes ao entender o crescimento na vida, tendo uma consciência dos erros e acertos de cada personagem dentro da trama. Não existe um vilão e nem um herói, já que na vida real também não existe. É um retrato, de certo ponto de vista, até fiel de uma realidade. Entretanto, falta uma carga ainda maior de entendimento sobre o assunto em si para ser um real tratamento sobre maturidade.