Coração das Trevas é relançado no Brasil pela Antofágica
Quando lançou Coração das Trevas, em 1899, o escritor britânico Joseph Conrad, definitivamente, não sabia o sucesso que sua obra faria. O seu livro se transformou em uma das grandes escrituras sobre a globalização e a chegada do século XX, até então como um imenso susto. A americana Maya Jasanoff, da Universidade de Harvard, escreveu um livro apenas dedicado a essa questão, chamado The Dawn Watch – Joseph Conrad in a Global World (A Vigília da Madrugada – Joseph Conrad em um Mundo Global). Ao retratar tudo isso, somos diretamente colocados em uma narrativa diferente do habitual. Somos colocados em um período de um mundo novo surgindo.
A primeira publicação da obra por completo foi feita mesmo em 1902, visto que – em 1899 – ela havia saído dividida em três partes na revista Blackwood’s Magazine. Conrad, naquela época, não teve a repercussão que ocorreu em uma leitura posterior. A ideia da globalização foi injetada já para tempos mais atuais, na leitura crítica contemporânea. Tudo perpassa bastante pelas questões mais diretas na narrativa, como o fato da trama se passar em um barco por um rio no Congo (relação com as colonizações onde desmbocaram na Primeira Guerra Mundial) e pelo tratamento deveras preconceito perante aos habitantes daquele local (relacionandao fortemente com as teorias eugenistas do período. O autor, no entanto, retrata isso bastante como uma maneira de denúncia aos horrores cometidos perante escravos, por exemplos, nesse período.
No artigo “Edward Said e o Coração das Trevas, de Conrad”, o professor João Bosco da Silva relaciona o trabalho de Joseph ao clássico Cultura e Imperialismo, de Said. Esse segundo irá falar explicitamente sobre o romance, citando como um exemplo para toda a questão imperialista da época. Além disso, é interessante a análise presente para falar sobre todo o comportamento cultural, complexo de ambas as civilizações e muitas vezes rechaçados pelos povos na qual chegavam.
Toda essa gigantesca camada profunda de debates históricos, sociológicos e até filosóficos influenciaram a Francis Ford Coppola para a realização de Apocalypse Now. Obviamente, Coppola seguiu outra trajetória e não fez uma adaptação fiel ao livro, apenas o utilizou como uma ferramenta de ideias, por assim dizer. No longa, o cineasta trouxe sua trama para o contexto da Guerra do Vietnã, também em uma narrativa denúncia perante os horrores americanos no conflito.
A editora Antofágica, em que traz clássicos da literatura mundial em edições especiais, resolveu realizar essa nova versão de Coração das Trevas no Brasil. Em uma tradução inédit de José Rubens Siqueira, ilustrações especiais do artista Cláudio Dantas e textos introdutórios, somos colocados novamente acompanhando a trajetória do barqueiro Charles Marlow.
A edição possui 288 páginas, com um acabamento de capa dura, e tem o preço de capa por R$59,90. Ela pode ser adquirida apenas diretamente pela Amazon, por aqui.