Crítica – A Última Rainha

O início de A Última Rainha busca diretamente atrair o público para dentro dessa história épica de um período longíquo. Por isso, a trama nos apresenta diversas pequenas histórias que serão desenvolvidas, mas todas interconectadas com a rainha Zaphira (Adila Bendimerad). Mais do que isso, a narrativa também estabelece tudo que veremos pela frente, desde o confronto entre os reinos e os piratas de Barbarossa (Dali Benssalah), até mesmo os pequenos dramas por conta das relações.

O mais curioso dessa escolha estética de Damien Ounouri e Adila Bendimerad (sim, a mesma atriz principal) é justamente pelo fato dessa mesma personagem ter uma existência em cheque. Há algumas boas chances, contudo nenhuma evidência que Zaphira realmente existiu. Ao centralizar a trama dentro de uma mulher cheia de incertezas perante a História e a si mesma, o filme consegue construir essa mesma sensação a cada novo momento. É como se esse mesmo universo pudesse ruir a qualquer momento – as pequenas tensões dentro da relação familiar com o rei Salim Toumi (Mohamed Tahar Zaoui) demonstram isso também.

Cena de A Última Rainha

A Última Rainha se vende como um grande épico do cinema argelino, ao falar do pirata Aroudj Barbarossa, que liberta Argel da tirania dos espanhóis e, apesar da sua aliança, teria assassinado o rei. Por isso, Zaphira precisa se colocar na linha de frente da batalha e armar uma estratégia para não deixar o reino ruir de uma vez. O grande problema é como o longa funciona muito mais nos seus dramas do que realmente na ação – essa, aliás, bem mais esporádica do que parece. A forma como é construída toda a moralidade e gestualidade no território são fundamentais para o entendimento de algumas motivações do decorrer dos acontecimentos.

Por isso mesmo, é até estranho como a direção subestima alguns elementos centrais que tornam tudo aqui tipicamente de um país, de uma região. É como se tivesse uma ideia de rejeitar o próprio DNA, sendo que se trata aqui de uma vida e história de um país africano, que sobreviveu a esse mesmo momento de instabilidade política. Ounouri e Bendimerad chegam até bem próximos de alcançar uma grande referência ao cinema hollywoodiano, em certo sentido para soar palatável a um público internacional. Desse jeito, falta identidade, ao mesmo tempo que também sobra seu ponto mais positivo: a consolidação dos pequenos dramas.

Cena de A Última Rainha

Com quase duas horas de duração, A Última Rainha tem uma certa falta de ímpeto próprio. Ao não saber bem se contará a história de um povo e suas implicações para o futuro e de uma mulher que tentou defender, ou se buscará ser uma ação histórica mais interessada nas coreografias, fica bem claro como o filme busca agradar a um público internacional. De certa forma, faz até sentido. Porém, parece faltar alguma coisa para tornar ele particular.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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